150 anos de Jaçanã: a história do bairro eternizado por Adoniran Barbosa
A região da Zona Norte foi polo de tratamento de leprosos e centro de produção cinematográfica
Caminho para Minas Gerais, lar de um dos primeiros estúdios de cinema da capital e conhecido Brasil afora por fazer rima com “manhã” em O Trem das Onze. O Jaçanã passou a se chamar assim em 1930 — ganhou o nome de um pássaro que existia no pedaço — e comemora o aniversário em 14 de setembro.
Na época da fundação, em 1870, era chamado de Uroguapira e depois virou Guapira. A história anterior ao século XX é pouco conhecida. “Sabemos que era um caminho utilizado pelos bandeirantes e chegaram a achar que teria ouro por aqui”, explica Gustavo Ferreira, historiador que estuda a região ao lado de Luis Moraes e Fabio Argolo.
O local se tornou conhecido como um reduto da saúde. A Santa Casa paulista adquiriu uma fazenda na região e construiu ali, entre 1904 e 1911, dois hospitais: os atuais São Luiz Gonzaga e Dom Pedro II, antigo leprosário e “abrigo de inválidos”, respectivamente. “Pensava- se na época que o leproso precisava de ar puro”, explica Ferreira.
O grande número de funcionários impulsionou a ocupação da região. O desenvolvimento ganhou força com a chegada do trem, em 1910. “Era um ramal da linha que fazia parte da Estrada de Ferro Cantareira, feita para a construção da represa”, explica Ralph Giesbrecht, especialista em história ferroviária. Entre loteamentos de terras para a construção de moradias e indústrias vidraceiras e metalúrgicas, o local foi também polo do cinema brasileiro.
De 1950 a 1959 a Cinematográfica Maristela funcionou no Jaçanã, ocupando quatro galpões de uma extinta fábrica de adubo. Ali trabalharam estrelas como Procópio Ferreira, Ruth de Souza e, é claro, Adoniran Barbosa. O sambista era ator e estrelou filmes, como A Pensão da Dona Estela. “Cada filme naquela época empregava cerca de 150 pessoas”, diz Marco Audrá, produtor-executivo da empresa, que completou setenta anos e hoje fica na Bela Vista.
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Adoniran deu fama ao bairro com a canção que fala do trem que seguia até Guarulhos, com parada na Estação Jaçanã, desativada em 1965. “O governo deixou o povo demolir a estação, foi uma farra, gente se machucou”, diz Giesbrecht. A história é preservada no Museu Memória do Jaçanã, ainda fechado pela pandemia. Guarda o chapéu de Adoniran e relembra os tempos em que o Mercado Municipal estava a um trem de distância da Zona Norte.
Publicado em VEJA São Paulo de 30 de setembro de 2020, edição nº 2706.