Academias investem em aulas-show
Casas simulam baladas e até musicais para animar alunos e conquistar novos clientes
Cercada por globo espelhado, luzes estroboscópicas, fumaça de gelo-seco e go-go boys sem camisa, a professora de educação física Mônica Valadão transformou sua sessão de sh’bam (dança aeróbica de passos simples) em uma espécie de balada, há três semanas, na academia Bio Ritmo da Avenida Paulista. Diante da treinadora, que usava maquiagem brilhante, sessenta pessoas seguiam os passos vestindo roupas pretas e brancas, conforme combinado previamente. “Os kits com papel picado para jogar no final e anéis de pisca-pisca acabaram em 48 horas”, conta ela, sobre as outras firulas da atividade, que não era algo regular, mas evento estratégico para a prospecção de clientela nova — cada matriculado podia levar um acompanhante. “Ficamos bem mais incentivados a suar a camisa”, diz o bancário Alan Venceslau, de 30 anos, que arrastou uma amiga interessada em se inscrever.
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Em datas esporádicas ou como parte da grade fixa, empresas do setor têm investido em aulas-show para embalar seus negócios, em um ramo de concorrência em alta. De acordo com estimativa do Sindicato das Academias do Estado de São Paulo, o número de unidades na cidade praticamente dobrou desde 2005, chegando a cerca de 3.000 atualmente. Na briga por mercado, há profissionais que são um espetáculo à parte. Em abril, Marcelo Ramos, o Marcelinho, usou o estacionamento da Planet Sport, no Jardim da Saúde, na Zona Sul, para brincar de Rambo. Desceu de uma tirolesa de 20 metros de altura até o chão, onde o esperavam aproximadamente setenta pessoas dispostas a espantar a preguiça. Ele também preparou uma espécie de rave, com direito a hostess, DJ, barman e sete instrutores convidados, além de alongamento em clima de luau, com violão e coqueiros cenográficos. “Sempre me perguntam que loucura vou inventar em seguida”, gaba-se.
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O professor Marcio Takarabe, que trabalha na área há dez anos, gosta de se inspirar em Hollywood para animar os alunos na Monday do Shopping Plaza Sul. Valeu-se, por exemplo, do filme “O Último Samurai” (2003), quando se vestiu como um soldado japonês. Na Companhia Athletica do Brooklin, o gerente Jean Patrick trouxe a bateria e uma passista da escola de samba Tom Maior para esquentar o clima no Carnaval. A equipe da rede Runner, por sua vez, animou os cursos com a reprodução da competição ciclística Tour de France em uma classe de spinning (os alunos ficavam de frente para um telão com a réplica do cenário do percurso) e uma orquestra em lições de balé.
Iniciativas assim, quando conseguem agradar de fato, costumam causar repercussão nas redes sociais, o que potencializa o boca a boca dos clientes. O investimento vale a pena. “Cerca de 30% dos recém-inscritos dizem ter se matriculado porque ouviram falar das ações excêntricas”, calcula Ana Del Mar, diretora de produtos e inovação da Runner. Sim, esse cargo existe. Em incentivo à reciclagem de ideias, ela implanta neste mês o projeto Prata da Casa. Os professores da rede têm um mês e meio para bolar uma aula inusitada completa, e os dois mais criativos embolsarão bônus de 5.000 reais no salário. Na Competition, a diversão se tornou permanente na grade. As três unidades acabam de lançar uma aeróbica com coreografias de musicais da Broadway, como “A Chorus Line” e “Chicago” (para frequentá-las, a mensalidade mínima é de 374 reais). Ali, a brincadeira é queimar calorias usando cartola roxa e dourada e plumas ao redor do pescoço.