“A Vingança do Espelho: a História de Zezé Macedo” vai além da biografia
Protagonizada por Betty Goffman, peça foge da caricatura para lembrar a trajetória da atriz de "Escolhinha do Professor Raimundo"
Nos primeiros minutos de “A Vingança do Espelho: a História de Zezé Macedo”, a personagem interpretada por Marta Paret faz uma pergunta aos colegas de elenco: “Afinal, qual o interesse em uma peça sobre a Dona Bela da ‘Escolinha do Professor Raimundo’?”. Para as novas gerações, a atriz fluuminense Maria José de Macedo (1916-1999) limitou-se à pudica aluna do humorístico comandado por Chico Anysio na década de 90. Mas ela fez muito mais, principalmente no cinema. Estrela das chanchadas da Atlântida, Zezé participou de uma centena de filmes, escreveu poesia e teve uma vida marcada por fortes amores — “apesar de nunca ter sido uma Tônia Carrero”, como diz outro personagem — e algumas tragédias, entre elas a morte do filho ainda bebê.
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Protagonizada por Betty Gofman, a montagem dirigida por Amir Haddad é ambientada nos bastidores de um teatro, onde uma companhia prepara um espetáculo sobre a comediante. O autor Flavio Marinho demonstrou sensibilidade e consciência de que parte do público pouco sabe sobre o passado de Zezé. Para isso, as quebras narrativas — identificadas como interrupções do ensaio — servem para o elenco explicar fatos e abrir espaço para uma discussão sobre os estereótipos alimentados no meio artístico.
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A inteligente forma de romper o didatismo traz à tona o eterno coadjuvante (papel de Marcelo Várzea), o gay cansado de repetir o mesmo tipo (o ator Tadeu Mello), a bonitona da TV escalada como chamariz de bilheteria (Marta Paret) e a arrogante atriz de prestígio (Betty), ex-namorada do diretor (Mouhamed Harfouch) e relutante em incorporar uma mulher feia. Zezé teve sua trajetória limitada em função de rótulos. A sucessão de cirurgias plásticas, principalmente depois de se casar com um homem mais jovem (novamente Várzea), comprometeu a imagem também no vídeo. Logo, a discussão secundária enriquece e atualiza o espetáculo, sem alimentar a caricatura.
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