A cerimônia do chá, chamada no Japão de chanoyu, busca o equilíbrio e a purificação da alma
Além de atender estudantes em casa, o Centro de Chado Urasenke do Brasil promove aulas uma vez por semana com classes formadas por no máximo dez pessoas
Em encontro formal dura quase quatro horas. Mesmo em ocasiões corriqueiras, o ritual avança por etapas tão complexas que anfitrião e convidados perdem a noção do tempo. Escorada na filosofia do zen-budismo, a cerimônia do chá, chamada no Japão de chanoyu, exige justamente que seus participantes se desliguem dos assuntos mundanos, em busca do equilíbrio e da purificação da alma. Tratada como arte, a cerimônia, repleta de movimentos simbólicos, todos calculados com rigor matemático, está entre as mais populares e antigas tradições japonesas. Um mestre de chá só recebe esse título depois de, pelo menos, vinte anos de estudo.
Entre as principais instituições japonesas dedicadas ao assunto, o Urasenke mantém uma filial na cidade há 54 anos. Instalada na Liberdade, a escola tem 25 professores. Eles dão aulas uma vez por semana no prédio, com classes formadas por no máximo dez pessoas, e atendem estudantes em casa. Neste ano, a procura aumentou. “O centenário da imigração japonesa ajuda a divulgar a nossa cultura”, diz Soen Hayashi, diretora do Centro de Chado Urasenke em São Paulo. “Muitos brasileiros sem ligação alguma com o Japão têm se matriculado no curso.” Há trinta anos no Brasil, ela conta que a cerimônia continua muito presente no dia-a-dia do japonês. “Lá, crianças de 3 anos de idade aprendem os ensinamentos básicos no jardim-de-infância.” Noivas matriculam-se em cursos de aperfeiçoamento com o objetivo de dominar a postura e a formalidade necessárias para bem receber os amigos.
No ritual propriamente dito, as regras vão do arranjo de flores que enfeita a sala, chamado de chabana, às tigelas de cerâmica onde se coloca a bebida, os chawans. Nada é aleatório. Criada por Sen Rikyu na segunda metade do século XVI, a cerimônia do chá aproxima-se de um espetáculo de balé: tanto os utensílios usados durante a reunião como o lugar em que cada um deve se sentar e os gestos, mesmo os mais sutis, sugerem uma coreografia bem marcada e sem espaço para improvisações. “Respeitamos muito o movimento da natureza”, conta Akiko Takahashi, brasileira que cresceu espiando as cerimônias promovidas pela avó imigrante e que estuda no Urasenke há doze anos. A professora Bertha Hoshi Nakao completa: “As cores dos objetos, o tipo de flor e até o chá que tomamos mudam de acordo com a estação do ano”.
Agora, no outono, as cerimônias são feitas com um chá verde mais leve e espumoso. No domingo (25), haverá uma demonstração gratuita para o público no edifício do Bunkyo, a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, onde fica o Urasenke, das 11 às 15 horas, seguida de uma performance da escritora e jornalista Erika Kobayashi, que faz uma releitura do ritual. Kampai! Ou, em bom português, tintim!
Centro de Chado Urasenke do Brasil. Rua São Joaquim, 381, 4º andar, sala 44, Liberdade, 3815-3641 e 3208-5485, Metrô São Joaquim. Terça, 10h às 20h. A partir de R$ 35,00 a aula de uma hora e meia de duração.
A etiqueta do chá
* Cuidado com a vestimenta: no tatame, espaço considerado sagrado, só se entra de meias brancas
* Atenção ao circular pelo ambiente: não se pode pisar nem apoiar objetos nas linhas pretas do chão
* Cálculo para se posicionar: o convidado precisa contar dezesseis faixas de costura a partir da linha preta a sua frente. E se ajoelhar exatamente atrás da 16ª faixa
* Obediência aos lugares marcados: a regra é que o convidado principal fique diante do anfitrião
* Calma antes de beber: só se deve pegar o chawan (tigela de cerâmica) depois de abaixar-se em agradecimento a quem o serviu
* Silêncio absoluto: não se fala nada durante todo o ritual. É um momento de meditação
* Gosto pela arte: no tokonoma, espécie de altar na sala de tatame, há sempre uma gravura ou caligrafia para ser admirada. Os chawans também devem ser apreciados