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“26 negros que estão a meu lado ficarão sem emprego”, diz vereador que pode ser cassado por racismo

Camilo Cristófaro (Avante) é alvo de processo na Corregedoria da Câmara Municipal; vereadores decidem na quinta se aprovam relatório

Por Clayton Freitas
Atualizado em 22 ago 2023, 12h19 - Publicado em 22 ago 2023, 12h04
Vereador Camilo Cristófaro
Vereador Camilo Cristófaro  (TV Câmara/Youtube/Reprodução)
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Alvo de processo na Corregedoria da Câmara Municipal por ter usado a expressão “É coisa de preto” durante uma sessão híbrida da CPI dos aplicativos realizada no dia 3 de maio de 2022, o vereador Camilo Cristófaro (Avante) disse à Vejinha “só fazer o bem” e melhorar a vida das pessoas. Procurado para comentar o relatório produzido na segunda-feira (21) por seu colega na Câmara, o também vereador Marlon Luz (MDB), que indiciou pela sua cassação, ele afirmou que vários negros que estão ao seu lado ficarão sem emprego. “Isso a imprensa não dá. Que 26 negros que estão a meu lado ficarão sem emprego. Que pela primeira vez em 470 anos um negro é subprefeito do Ipiranga”, escreveu, em mensagem à reportagem.

Essa não é a primeira vez que ele usa uma fala racista para se defender da acusação de racismo. Em novembro de 2022, ele já havia dito que 70% das pessoas que trabalhavam em seu gabinete eram negras.

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A base eleitoral de Camilinho é o bairro da Zona Sul e ele tem grande influência sobre a regional. Sempre polêmico, a fala proferida em um áudio vazado foi captada pelos microfones da Câmara Municipal e causou indignação geral, inclusive do presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil). “Varrendo e lavando a calçada (…) é coisa de preto, né?”.  Relembre a fala do vereador abaixo.

Dias depois de proferir a frase, o seu então partido, o PSB, o desfiliou e ele virou alvo de processo disciplinar na Câmara. Em 5 de junho, a vereadora Luana Alves (PSOL) fez uma denúncia à Polícia Civil e ele foi indiciado no dia 21 daquele mesmo mês. Levado à Justiça, ele foi inocentado em decisão de julho deste ano do juiz Fábio Aguiar Munhoz. O magistrado alegou que a frase havia sido retirada do contexto de “brincadeira, de pilhéria, mas nunca de um contexto de segregação, de discriminação ou coisa que o valha”, escreveu na decisão.

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“Uma história de 44 anos de vida pública inatacável. Fui absolvido criminalmente”, disse Camilinho.

Segundo ele, até as 17h desta segunda-feira o relatório indicaria a sua absolvição. “’Às 18h virou pela cassação”, disse. “A casa inteira está a meu favor”, afirmou. Segundo ele, o vereador Alessandro Guedes (PT) renunciou à corregedoria ao saber que a decisão havia mudado.  Camilinho afirmou que seria “tranquilamente 4 a 2 pela absolvição”. Luz e Guedes foram procurados para comentar o assunto por intermédio de suas assessorias de imprensa.

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O relatório favorável à cassação de Camilinho deverá ser votado na quinta-feira (24) na própria Corregedoria. Se aprovado, ainda depende de análise do plenário da Câmara, o que deve ocorrer apenas no dia 29 de agosto. O vereador do Avante só perderá o cargo se essa for a decisão da maioria absoluta dos 55 vereadores (37 votos ou mais).

O relatório

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Luz escreveu em seu relatório que a fala de Camilinho “evidencia que seu comportamento consiste em manifestar a crença de que existem seres humanos superiores a outros”. O relator também criticou a conexão entre trabalho manual deficiente e a população negra feita pelo vereador. “Ao estabelecer uma conexão entre um trabalho manual deficiente e a população negra, o vereador Camilo Cristófaro reforçou a percepção socialmente abominável de que as pessoas negras são necessariamente encarregadas de executar trabalhos manuais e que sua suposta ineficiência está relacionada à sua etnia, o que, por si só, já caracterizaria uma quebra de decoro parlamentar”.

Ele afirmou que a atitude de Camilinho “prejudica a imagem da Câmara Municipal como instituição”. “A representação política é uma das bases da democracia, e quando um parlamentar se manifesta com uma fala tão draconiana que levanta questionamentos sobre sua capacidade de representar todos os cidadãos, independentemente de sua origem étnica”, escreveu.

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