O que o reflexo de Fred Flintstone nos ensina sobre reação a problemas?
Num dos episódios d’Os Flintstones, Fred vai a uma consulta médica. Durante o exame físico, o médico pega o martelo e verifica o reflexo patelar do velho campeão de boliche de Bedrock. O exame dos reflexos serve para avaliar a integridade do sistema nervoso. Quando está tudo em ordem a perna sofre uma flexão involuntária e […]
Num dos episódios d’Os Flintstones, Fred vai a uma consulta médica. Durante o exame físico, o médico pega o martelo e verifica o reflexo patelar do velho campeão de boliche de Bedrock. O exame dos reflexos serve para avaliar a integridade do sistema nervoso. Quando está tudo em ordem a perna sofre uma flexão involuntária e volta imediatamente para a posição original de relaxamento. Mas não é o que acontece com Fred. Ao receber uma leve martelada dada pelo médico, a perna do personagem executa um movimento violento e ininterrupto até chegar ao teto do consultório. Por que isso aconteceu com ele?
A ocorrência dos muitos reflexos do corpo humano depende da recepção sensorial de um estímulo, sua condução até a medula espinhal (que fica dentro da coluna óssea vertebral) e a execução de uma resposta motora involuntária (arco reflexo). O que raramente é falado acerca do reflexo é que ele sofre uma modulação que depende de áreas mais desenvolvidas do sistema nervoso como as áreas frontais do córtex cerebral, que participa das funções mais complexas de nosso encéfalo. Dentre essas funções destaquemos a capacidade de inibição motora ou, mais genericamente, inibição comportamental.
No caso do reflexo patelar, assim que a perna começa a ser flexionada o cérebro é informado do movimento e imediatamente começa a sinalizar uma inibição, de modo que o movimento de flexão da perna é interrompido. Imagine como a vida seria complicada se os reflexos não fossem rapidamente inibidos. Ao retirar a mão por reflexo de algo quente, por exemplo, nosso braço ficaria girando eternamente. O que o criador dos Flintstones parece querer mostrar com a cena descrita acima é que Fred não possui um córtex ou que sequer possui um cérebro.
Mas a capacidade de inibição é importante não apenas para os reflexos como também para comportamentos mais complexos, tanto porque às vezes precisam ser modulados quanto porque às vezes precisam ser evitados. Nesses casos, não basta possuir um cérebro para que tudo dê certo. Isso porque ele também sobre influências de fatores presentes no ambiente ou na história de aprendizagem do indivíduo. Um piloto de automobilismo queima a largada porque houve uma falha na inibição da resposta motora que já está programada para acontecer. Essa falha pode ser desencadeada por conta da ansiedade e do estresse presentes nos momentos que antecedem a corrida. O mesmo vale para qualquer situação na vida. Embora muitas vezes seja importante respondermos com rapidez a certos acontecimentos, sempre é essencial que nossa capacidade de inibição comportamental esteja funcionando bem para que emitamos a melhor resposta possível. Do contrário, acabaremos queimando a largada. Isso é importante, por exemplo, quando queremos tomar alguma atitude diante de algum problema ou diante de algo que nos é dito e que nos desagrada. Atrasar a resposta pode ser crucial para emitir a melhor possível, aquela que nos trará os melhores resultados. Por mais óbvio que pareça, vale ressaltar que prestar atenção na respiração é um importante recurso para treinarmos nossa capacidade de inibição. Algum tempo engajado nessa proposta permite um cotidiano cada vez mais saudável.
Chega de chutar o teto?