Como saber se falar sozinho é bom ou ruim
Semana passada uma amiga escreveu uma postagem no Facebook perguntando se só ela falava sozinha e como cada um via essa atitude. Foi bacana perceber o elevado grau de empatia nas respostas. Várias pessoas confirmaram que tinham o mesmo comportamento e cada uma relatou seu modo de falar sozinho. Alguns preferem certos lugares, outros preferem certas […]
Semana passada uma amiga escreveu uma postagem no Facebook perguntando se só ela falava sozinha e como cada um via essa atitude. Foi bacana perceber o elevado grau de empatia nas respostas. Várias pessoas confirmaram que tinham o mesmo comportamento e cada uma relatou seu modo de falar sozinho. Alguns preferem certos lugares, outros preferem certas situações ou, ainda, determinado momento do dia. Ninguém que escreveu ali percebe esse comportamento como algo que traz sofrimento mas sim como uma experiência agradável, positiva.
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Falar sozinho é bom em diversas ocasiões mas também pode ser sinal de problemas. Então é importante saber diferenciar uma situação da outra. Há dois critérios de ouro que identificam o falar sozinho saudável:
1) A pessoa sabe que está falando sozinha.
2) A pessoa não ignora os presentes enquanto fala consigo mesma.
Obedecidos esses dois critérios, falar sozinho é útil para algumas finalidades. A fala autodirigida ajuda a organizar o pensamento; isso porque facilita a manutenção da atenção no conteúdo relevante do pensamento, evitando que “distratores” no ambiente capturem a atenção e interrompam o pensamento em curso.
Em momentos de tomada de decisão isso se torna crucial, já que sempre há algum stress envolvido. Nesse caso falar consigo, além de auxiliar no raciocínio, também ameniza o stress, sabidamente um forte elemento a atrapalhar a cognição. Os japoneses há 100 anos usam essa estratégia, combinada com a gesticulação, na manutenção das linhas férreas. A técnica é chamada de shisa kanko (apontar e falar) e reduziu os acidentes de trabalho em 70%.
Falar sozinho também facilita a memorização de informação nova, de modo que estudar em voz alta é um recurso poderoso para consolidar o conteúdo aprendido. Isso acontece porque há mais redes cerebrais ativas quando utilizamos mais de uma modalidade sensório-motora e isso fortalece os elos entre elas, como já vimos anteriormente.
Outro contexto que evidencia a utilidade da fala autodirigida é o dos esportes, no qual o ganho tem a ver com a motivação. É comum atletas profissionais falarem sozinhos durante uma partida. Isso é notável, por exemplo, no tênis, mas basicamente é funcional em qualquer modalidade. Um desdobramento possível disso ocorre em situações de grande privação, como quando alguém sobrevive a dias de soterramento após um terremoto. É essencial falar ideias de incentivo a si mesmo como forma de manter a motivação e o engajamento voltados para a sobrevivência.
É notável como crianças pequenas falam sozinhas. Elas como que narram tudo o que estão fazendo. Isso é importante para auxiliá-las na aquisição de novos conhecimentos e habilidades. Na medida em que o desenvolvimento avança e elas passam a ter maior domínio sobre o ambiente, a fala autodirigida vai desaparecendo aos poucos.
Os adultos, portanto, tendem a falar sozinhos enquanto mantém contato com informação nova. A ideia propagada de que falar sozinho é sinal de que a pessoa é um gênio não é verdadeira. O que ocorre é que quem fala bastante sozinho normalmente (não em todos os casos) é alguém que mantém o contato com informações novas e desenvolve novas habilidades.
Falar sozinho se mostra sinal de problema quando ao menos um dos dois critérios de ouro não é satisfeito, ou seja, quando a pessoa não sabe que está falando sozinha ou quando ela ignora outros presentes ao fazer isso. Nesse caso a fala autodirigida pode ser sinal de patologias psicóticas (aquelas nas quais há um rompimento com a realidade), da presença de alguns transtornos de personalidade ou do abuso de substâncias químicas.
Obedecidos os dois critérios de ouro, falar sozinho é ótimo para a saúde e para o bem-estar.