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É sempre amor, mesmo que acabe

Para Márcia Tolotti, mesmo na modernidade líquida de Bauman, ainda queremos amar e ser amados

Por Márcia Tolotti em depoimento a Helena Galante
18 jun 2021, 06h00

Quando comecei a pensar sobre o amor, foi para tentar dar contorno, segurança e completude ao que eu sentia. Quando cresci e me tornei uma profissional da área de saúde mental, continuei tentando compreender esse laço que unia tão profundamente duas pessoas, mas que, não raramente, ruía com uma intensidade ainda maior — laço esse que chamamos de amor. Ouvi inúmeras histórias de ódio que começaram com um “te amo” e nunca aceitei sem relutar essa ambivalência.

Depois de muito percurso teórico-prático, ouvi uma música da banda Bidê ou Balde que retratou muito claramente aquilo que eu pensava: “É sempre amor mesmo que acabe… É sempre amor mesmo que mude… É sempre amor mesmo que alguém esqueça o que passou…”. E é partindo dessa ancoragem que faço esta reflexão sobre o relacionamento amoroso.

Não vou fazer distinções acadêmicas entre amor, paixão, narcisismo primário ou secundário, ainda que seja sedutor entrar nesse campo. Meu propósito aqui é escrever sobre uma das mais profundas subjetividades do ser humano: “Se fazer ser para um outro”. Desde nosso nascimento precisamos do olhar e de um investimento amoroso para que possamos nos tornar sujeitos, quer dizer, alguém tem de nos fazer e nos querer bem. Platão já nos dizia que “o amor é o desejo da perpétua posse do bem”. Após esse repasse de amor que recebemos, registramos em nosso psiquismo uma pulsão de vida que acabamos compartilhando, mais generosa ou economicamente, em nossos encontros amorosos.

Mas, se temos uma dose suficiente de amor para sobreviver, crescer e conseguir amar, por que os relacionamentos são tão complicados? Por que, após anos de convivência, o ódio parece imperar? Por que, após uma noite maravilhosa, nenhum telefonema no dia seguinte? Acredito que o amor se instaura por minutos ou por décadas, a diferença não está no amor, mas na decisão de amar, na química, nos valores comuns, nas vicissitudes da vida e na força da cultura.

Qual é nossa mentalidade de época? Recorro a Zygmunt Bauman e ao conceito de modernidade líquida. Vivemos sob a égide da satisfação perpétua, imediata e ininterrupta. Acreditamos que felicidade é prazer, que prazer deve ser satisfeito a qualquer custo, que a diversão não tem fronteiras, e assim nasce o “amor líquido”, fluido, que escorre entre nossos dedos. Muitas vezes não conseguimos “pegar, segurar ou mesmo sentir amor”. Esses são efeitos colaterais da cultura do excesso e da ausência da moderação na era do vazio, concordando com Gilles Lipovetsky.

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Temos medo de nos vincular e de perder a liberdade, mas, mesmo assim, ainda queremos amar e ser amados. De jovens a idosos, a maioria ainda busca ter alguém em quem possa confiar e para compartilhar sentimentos, mas como fazer isso em tempos de pandemia, de distanciamento social e de tanta “liquidez”? Antes de tudo, decidindo amar, seja por alguns minutos, seja por décadas.

Recentemente, li uma pesquisa elaborada pelo aplicativo Inner Circle mostrando que 58,5% do público que busca encontrar alguém através de um aplicativo quer um relacionamento sério e duradouro. Então, mais fácil seria assumirmos que, mesmo quando relacionamentos acabam, ali houve uma boa dose de amor e que é sempre amor mesmo que mude, é sempre amor mesmo que alguém esqueça o que passou…

Mulher ruiva, de cabelos cacheados e óculos se apoia em uma poltrona, vestindo camisa social
Márcia Tolotti (Divulgação/Divulgação)

Márcia Tolotti (@educacaopsicofinanceira) é psicóloga e psicanalista, consultora de educação financeira e autora de nove livros, entre eles O Desafio da Independência — Financeira e Afetiva, As Armadilhas do Consumo e Linha de Chegada. dedica-se a ajudar as pessoas a superarem dificuldades emocionais e financeira. No fim de 2019, fez um tedx sobre relacionamentos com o tema Você Permite ou Sabota a Paixão?

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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de junho de 2021, edição nº 2743

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