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“Pousada Refúgio”, de Leonardo Cortez: incômodo emergente

Pedro Granato dirige comédia dramática sobre o desconforto do brasileiro de classe média diante do cotidiano opressor

Por Dirceu Alves Jr.
20 jun 2018, 14h50
Maurício de Barros, Leonardo Cortez, Glaucia Libertini, Tatiana Thomé e Daniel Dottori (Ana Alexandrino/Divulgação)
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O dramaturgo paulistano Leonardo Cortez firma a cada trabalho seu vínculo a temas da realidade brasileira. Exemplos dessa sensibilidade para radiografar crônicas sociais são as peças Maldito Benefício (2014) e Sala dos Professores (2016), ambas encenadas por Marcelo Lazzaratto.

Na comédia dramática Pousada Refúgio, o autor alia-se ao diretor Pedro Granato, responsável pelo impactante Onze Selvagens (2017), e alcança um jogo de espelhos com a plateia entre a diversão e o incômodo. No palco estão o desconforto do brasileiro emergente diante do cotidiano opressor e o sonho de recomeçar uma vida em um lugar desconectado dessa existência.

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O publicitário Zé Carlos e sua mulher, Walkíria (representados pelo autor e por Glaucia Libertini), recebem para jantar um casal menos endinheirado, o professor Pardela e a psicóloga Cleide (interpretados por Maurício de Barros e Tatiana Thomé). Juntos, eles planejam construir um hotel em uma região bucólica e sossegada, que seria gerenciado por Ronaldo (o ator Daniel Dottori), o irmão problemático de Walkíria.

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À medida que as garrafas de vinho são esvaziadas, a sinceridade do grupo se faz nítida a ponto de gerar mágoas progressivas. Os personagens ganham novos contornos, e uma discussão ética entra no primeiro plano da ação. O risco da caricatura no desenho de cada um se desfaz na segura direção de Granato. Possíveis exageros no limite tragicômico, trilhado principalmente por Cortez e Glaucia, são controlados e induzem a uma reflexão sobre os valores que tomaram conta da sociedade. Barros, Tatiana e Dottori ilustram bem a opressão cotidiana que precisa ser relevada em nome da convivência.

Peça com potencial para atingir plateias amplas, Pousada Refúgio é um teatro conectado com o momento, de narrativa direta e, por vezes, digestiva, capaz de fisgar um público disposto a compreender o que lhe for conveniente (80min). 14 anos. Estreou em 7/6/2018.

+ Espaço Cênico do Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93, Pompeia. Quinta a sábado, 21h30; domingo, 18h30. R$ 20,00. Até domingo (1º).

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