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“Justa”, de Newton Moreno: uma dama cheia de caráter

A peça, protagonizada por Yara de Novaes e Rodolfo Vaz, se confirma como exemplo de dramaturgia pronta para surpreender, repleta de pontos de virada

Por Dirceu Alves Jr.
10 jul 2018, 13h57
Rodolfo Vaz e Yara de Novaes (Elisa Mendes/Divulgação)
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Quase aos 45 minutos do segundo tempo, às vésperas da aposentadoria, um investigador (papel de Rodolfo Vaz) vê cair em seu colo um trabalho capaz de mudar sua vida. Esse é o ponto de partida do drama Justa, escrito por Newton Moreno e dirigido por Carlos Gradim, em cartaz no Sesc 24 de Maio.

O assassinato de um senador corrupto leva o protagonista a um bordel, nos arredores de Brasília. Depois de colher o depoimento da obesa Nordestina, a dona do cabaré, o policial interroga as demais prostitutas que ali ganham o pão para encontrar pistas sobre o criminoso.

Passam por suas entrevistas a meretriz defensora dos direitos da classe, a manca, uma de quase 100 anos que não desiste do prazer e, por fim, Justa, mulher de cara limpa, ética no trabalho, na vida e com os clientes. É o bastante para o sujeito se encantar pela senhora tão incomum e se enredar em uma trama de suspense, logo alimentada por novos homicídios.

+ Leia sobre o monólogo O Monstro, com Genézio de Barros.

Fator decisivo para o envolvimento do espectador é a interpretação de Yara de Novaes, que, em nova prova de versatilidade, se divide entre todas as personagens femininas. A atriz, brilhante na recente montagem Love, Love, Love, alterna sotaques e olhares e adequa a postura de acordo com as exigências de cada uma das prostitutas. Fica estabelecida uma parceria sintonizada com Vaz, que percorre um caminho mais econômico, narrativo e de diálogo direto com a plateia.

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+ “Refúgio”, a nova peça de Alexandre Dal Farra.

Justa ainda se confirma como exemplo de dramaturgia pronta para surpreender, repleta de pontos de virada. Se, em um primeiro momento, a peça gira em torno da paixão do policial pela dama cheia de caráter, Moreno a subverte gradativamente, desconstruindo perto da reta final o perfil da personagem-título com novos e polêmicos contornos.

O autor usa a ficção para tratar da degradação do sistema político brasileiro e, de quebra, provoca o público, que costuma ser passivo diante das atitudes abusivas de seus representantes (90min). 18 anos. Estreou em 28/6/2018.

+ Teatro do Sesc 24 de Maio. Rua 24 de Maio, 109, centro. Quinta a sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 40,00. Até domingo (22).

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