Gilberto Gawronski em “A Ira de Narciso”: a força da narração
O ator protagoniza monólogo do uruguaio Sergio Blanco em um raro suspense que mistura ficção e realidade
Canções de Roberto Carlos, como Desabafo e A Distância, embalam a entrada do público na sala. À direita do palco, o ator Gilberto Gawronski lança olhares cúmplices para quem chega. O som desaparece, e ele conta como recebeu do dramaturgo uruguaio Sergio Blanco o monólogo A Ira de Narciso, que, em minutos, começa a interpretar.
O personagem é o próprio autor. Convidado para uma conferência em Liubliana, na Eslovênia, Blanco se instala em um hotel e aproveita um período vago para vasculhar um aplicativo de paquera. O sexo casual com um rapaz em sua suíte corre como planejado e, depois da despedida, Blanco pega no sono. Na madrugada, porém, ele enxerga uma mancha de sangue no carpete e se envolve em um obsessivo jogo de interrogações pelos quatro dias seguintes.
O dramaturgo constrói um suspense raro. O tormento do protagonista induz o público a um instigante quebra-cabeça. Direto, provocativo, natural, Gawronski tira o máximo proveito da metalinguagem e domina a atenção até o surpreendente desfecho. Vale tudo em nome da arte? A parceria de Blanco com Gawronski garante que sim, em uma narrativa nada óbvia e repleta de viradas incomuns. Participação de Murillo Basso. Direção de Yara de Novaes (100min). 18 anos. Estreou em 12/4/2018.
+ Auditório do Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, Pinheiros. Quinta a sábado, 20h30. R$ 25,00. Até sábado (12).