“Caixa de Memórias”: o álbum de família de Marcio Aurelio e Vendramini
Denise Del Vecchio e Walter Breda lideram o elenco do drama que atravessa boa parte do século XX em um retrato afetivo e comportamental

Caixa de Memórias confirma o prazer visivelmente estabelecido entre artistas e espectadores diante de uma boa história. O diretor Marcio Aurelio leva ao palco o drama de José Eduardo Vendramini com sua sofisticação característica, mas apoiado por delicadezas capazes de cativar em um épico bem contado.
Descendente de italianos, Antônio (papel de Walter Breda) conhece a jovem Yolanda (interpretada por Denise Del Vecchio), de origem libanesa, e os dois se casam por volta de 1930. Os filhos (vividos por Paulo Marcello e Samanta Precioso) crescem, assim como os conflitos que desafiam a união e provocam embates geracionais. Ana, a mais velha, abdica de estudar e trabalhar na capital para cuidar dos pais, enquanto André, frustrado e alcoólatra, carrega problemas para dentro de casa.
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Vendramini desenha um terno painel comportamental do miolo do século XX até chegar aos anos 70, quando Ana, enfim, assume a representação da evolução feminina na sociedade. Um prólogo promove uma conexão com os dias atuais.
As interpretações fogem do realismo. Nenhum dos personagens rejuvenesce ou envelhece de acordo com o tempo. Como em um baú de memórias, cada um tem sua cara, o que leva os atores a explorar recursos sutis para o convencimento nas diferentes idades.
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Breda e Denise são destaques naturais pela força de Antônio e Yolanda. A performance de Marcello, no entanto, surpreende por trazer à tona um intérprete detalhista e econômico, mesmo quando o excesso seria o óbvio. Carolina Fabri, Gonzaga Pedrosa e Laís Marques completam o elenco (100min). 14 anos. Estreou em 29/6/2018.
+ Centro Cultural São Paulo — Sala Jardel Filho. Rua Vergueiro, 1000, Paraíso. Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 20,00. Até o dia 29.