“A Queda”, de Marcello Airoldi: metáfora existencial do homem comum
O monólogo, escrito e protagonizado pelo ator, acompanha o processo de aceitação de um sujeito em torno de uma situação-limite
Durante os sessenta minutos do monólogo A Queda, escrito e protagonizado por Marcello Airoldi, o espectador tem a nítida sensação de que o ator despenca de uma altura considerável rumo ao chão. Efeito louvável alcançado pela encenação concebida pelo diretor Nelson Baskerville e pelo trabalho de movimento corporal proposto por Cristiano Karnas, eficientes ao mostrar Airoldi em um baque contínuo.
O sujeito em questão enfrenta uma situação-limite, jamais será o mesmo depois da experiência vivenciada. Ele tenta encontrar o sono listando palavras sem conexão, recorda o impacto de assistir aos atores Marlon Brando e Maria Schneider no filme O Último Tango em Paris e se sente confortado ao ouvir a cantora Cida Moreira dando voz a Summertime. Até chegar ao chão, o personagem tenta entender e mesmo aceitar o sofrimento.
+ “O Mistério de Irma Vap” volta desconstruída e revigorada.
Nunca fica realmente claro o que se passou. Quem sabe a morte de alguém muito querido, a separação do grande amor, o fracasso na carreira. Não importa. Em densa interpretação, Airoldi transita entre a dor e a perplexidade até encontrar o alívio na representação de sua metáfora existencial.
O artista conduz a plateia a uma série de sensações construídas com base no belo visual da montagem, na sonoridade das músicas que formam a trilha e nas palavras capazes de espelhar a instabilidade psicológica. O voo-solo de Airoldi dispensa uma trama detalhada ou de fácil compreensão e ousa ao exigir do público uma leitura própria do conflito proposto (60min). 16 anos. Estreou em 11/4/2019.
+ Espaço Cênico do Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93, Pompeia. Quinta a sábado, 21h30; domingo, 18h30. R$ 20,00. Até domingo (5).