“Esse mundo já se acabou várias vezes”, diz artista indígena
Jaider Esbell, que teve mostra interrompida, expõe obras no Instagram e fala sobre seu povo, os makuxis, e o confinamento
O que você busca alcançar com a fusão, que é uma operação recorrente em suas telas?
Tento convidar as pessoas a sentir as coisas de uma forma mais fluida. Dentro dessa perspectiva, um beija-flor pode se metamorfosear e alcançar qualquer forma. Trabalho a questão da transitividade de formas, elementos e conceitos.
Na tela Maikan e Tukui (2020), notamos diferentes texturas e cores. Elas fazem referência a elementos da cultura makuxi?
Sim, totalmente. Quanto às cores, é importante dizer que as trabalho não como uma ideia de hierarquia, mas numa perspectiva de escala, que vai desde tons mais esmaecidos até outros mais vibrantes, nos quais a luz se expande, estoura e aparece novamente.
Para quem não conhece sua etnia, a makuxi, como você a definiria?
É um povo que está se deslocando no tempo. Temos uma ideia circular da existência.
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E como vocês têm sentido a pandemia?
A gente acredita que esse mundo já se acabou várias vezes. Essa não vai ser a primeira nem a última. Estamos passando mais uma vez por um ciclo. Conseguimos atravessar a colonização sem ser exterminados, diferentemente do que ocorreu com grupos menores. No nosso território, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, temos o Monte Roraima. Nele, tem um canal com o centro da Terra, onde há uma passagem para nos conectar com o novo ciclo e continuar nossa história.
O que é fundamental para vocês nesse novo ciclo?
Nossa cosmologia, nossa língua. E, essencialmente, nosso território.
Qual a importância das redes sociais para a circulação de obras de indígenas?
É muito importante, eu mesmo comecei postando meu trabalho no Facebook. Muita gente que não era indígena perguntava seu eu não tinha medo de roubarem minhas criações. Se roubarem, eu dizia, é porque são boas. Eu não tinha lugares onde mostrar, então tinha que colocá-las lá.
Que conselho você daria a jovens artistas das variadas etnias?
Tem de ter persistência, né? porque nada para eles vai ser fácil. Mas nem preciso falar isso, eles já sabem.
> No Instagram: @jaider_esbell
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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de março de 2021, edição nº 2730