Um bom texto na mão nem sempre é garantia de um espetáculo de sucesso. Para a montagem justificar-se, são necessárias a compreensão e a ampliação de significados em torno do original aliadas a interpretações que redimensionem os personagens. Sob a direção de Gabriel Fontes Paiva, o melancólico drama escrito pelo inglês Harold Pinter (1930-2008) alcança tal façanha. A trama, inspirada em estudos do neurologista Oliver Sacks (1933-2015), parte da ciência para encontrar a identificação com a plateia em conflitos pessoais e familiares. Depois de 29 anos em coma, Débora (Yara de Novaes) acorda com a mente de uma adolescente, sem dar-se conta do que ficou para trás enquanto permaneceu em seu quarto. Sua irmã caçula, Paulinha (Miriam Rinaldi), abdicou da própria história para cuidar dela, chegando a casar-se com o responsável pelo tratamento, o médico Hornby (Jorge Emil). Na pele da protagonista, Yara impressiona pela sensibilidade com que transita por apatia, arrogância e decepção. A resignação impressa por Miriam e o pragmatismo de Emil funcionam como um arquitetado conjunto em torno de Yara e da encenação construída por Paiva, uma surpresa na reta final da temporada. Estreou em 30/10/2015. Até 29/11/2015.