Raros espetáculos podem ser vistos como um divertimento, quase digestivo, e, ao mesmo tempo, revelar mensagens pertinentes diante de um olhar mais atento. Esse é o caso da comédia dramática A Tartaruga de Darwin, do espanhol Juan Mayorga, dirigida por Mika Lins. Na trama, um historiador (papel de Marcos Suchara) recebe a visita de uma enigmática senhora (interpretada por Ana Cecília Costa). Dona Henriqueta apresenta-se como uma das tartarugas que embasaram a pesquisa do cientista inglês Charles Darwin (1809-1882) para a teoria da evolução das espécies. Quase bicentenária, ela testemunhou, entre tantos fatos, a Revolução Russa (1917) e a queda do Muro de Berlim (1989), e, em troca de informações para corrigir registros equivocados, pede para ser levada de volta ao seu hábitat, as Ilhas Galápagos. O sonho de paz da exausta criatura, porém, dura pouco. Primeiro, a mulher do estudioso (a atriz Tuna Dwek) fica mordida com a atenção dispensada pelo marido ao réptil e, logo, um médico (o ator Diego Machado) pensa em usá-lo como objeto de seus estudos. Em tom de fábula, a montagem diverte e comove ao recorrer a simbologias como o desprezo em relação à memória e também critica a ganância da humanidade. A diretora dispensa o absurdo e comanda o elenco de olho na humanização, adotando registros que beiram o naturalismo. Ana Cecília tira proveito da rica personagem em uma caracterização limpa e abre espaço para Suchara, Machado e, principalmente, Tuna, que garante o tom cômico com as nuances da invejosa Beth. Estreou em 17/11/2017. Até 17/12/2017.