A Próxima Estação – Um Espetáculo para Ler
- Direção: Michele Santeramo
- Duração: 80 minutos
- Recomendação: 12 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
O ator Cacá Carvalho ficou conhecido do grande público como o personagem Jamanta, explorado em duas novelas de Silvio de Abreu, Torre de Babel (1998) e Belíssima (2005). Sua trajetória teatral, no entanto, é repleta de desafios desde que despontou em Macunaíma (1978), dirigido por Antunes Filho, até os elogiados monólogos A Poltrona Escura (2003) e 2 X 2 = 5 — O Homem do Subsolo (2015). Novamente só no palco, o intérprete radicaliza em uma antiencenação batizada de A Próxima Estação — Um Espetáculo para Ler e comprova que da extrema simplicidade pode ser extraída uma obra de arte. Carvalho se posiciona atrás de um púlpito e começa simplesmente a ler o texto do também diretor Michele Santeramo, Só a projeção das poéticas ilustrações de Cristina Gardumi servem de cenário. A trama se inicia em 2015, com Massimo e Violeta se refrescando em uma praia. O jovem casal relembra um passado de rejeição e fala sobre o desemprego de um deles. O ator altera delicadamente o tom da voz para diferenciá-los e salta uma década para renovar os conflitos. As inflexões parecem mais adultas e, em uma época adiante, Carvalho já usa um recurso grave para os maduros Massimo e Violeta. Desejos incompatíveis, traições e conflitos domésticos marcam os 50 anos de convivência da dupla, que, em um apocalíptico ano de 2065, une esforços para sobreviver a uma rotina mecânica e desprovida de prazer. O que poderia ser apenas uma leitura dramática é apresentado como uma história de amor que atinge um caráter, inclusive, político. Não à toa provoca o espectador sobre a importância de cultivar um sentimento para enfrentar as transformações da sociedade e, na contramão de muitas montagens, o obriga a prestar atenção em cada palavra para ser arrebatado pelo espetáculo. Estreou em 10/11/2016.