Explosão de megashows: turnês internacionais quebram recordes em São Paulo
Novembro e dezembro terão sequência inédita de grandes apresentações na cidade, que consagram a liderança do Allianz Parque no segmento
Alanis Morissette, Paul McCartney, RBD, Red Hot Chili Peppers, Roger Waters, Taylor Swift… Seria, no mínimo, um line-up eclético e explosivo de um grande festival internacional — mas é a agenda de novembro e dezembro de apresentações musicais em São Paulo, nem todas com ingressos esgotados.
As seis turnês ocuparão dezesseis datas de dois estádios da cidade, o Allianz Parque e o Morumbi. O campo do São Paulo será palco de três shows, enquanto a arena do Palmeiras recebe os outros treze.
Inaugurado em 2014, o estádio da Zona Oeste irá, assim, quebrar quatro recordes “pessoais” até o fim de 2023: maior número de shows em um mesmo ano (39), em um semestre (28), em um mesmo mês (12 em novembro) e maior quantidade de patrocinadores na casa (12).
Para além da música, os megashows atuais valorizam a chamada “experiência” — e a estrutura moderna, além da localização privilegiada do Allianz Parque, o transformam em um líder do segmento.
“O Allianz surfa a nova onda do entretenimento, na qual marcas querem se conectar às pessoas em momentos emocionantes. Nosso trabalho tem sido posicionar a arena como a opção que entrega a melhor experiência antes, durante e depois dos shows, o que é difícil em uma metrópole”, diz Claudio Macedo, CEO da WTorre Entretenimento, que gere a casa até 2044.
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Entre os três principais estádios paulistanos, o do Palmeiras lidera com folga o “campeonato” dos megashows. A Neo Química Arena, do Corinthians, vai receber em dezembro o festival Cena 2k23 e duas apresentações do cantor Thiaguinho — mas optou por não informar à Vejinha o total de shows em 2023, para “evitar comparações”.
Em março, o estádio do São Paulo teve seis apresentações da banda inglesa Coldplay e no fim do ano vai abrigar as duas noites extras do grupo mexicano RBD e a única do americano Red Hot Chili Peppers — mas as turnês atuais só foram parar no Morumbi por conflitos de agenda no Allianz.
“Com 39 shows no ano, mais 35 jo gos do time de futebol, eu diria que a gente está muito perto de alcançar 100% do que a arena tem para entregar. O desafio atual é entender como poderemos oferecer 45 shows no ano que vem sem afetar o esporte. Há conversas sobre novos investimentos em estrutura de montagem e desmontagem, por exemplo”, afirma Macedo.
A possibilidade de fazer vários shows de um mesmo artista — quatro noites de RBD, três de Paul McCartney e outras três de Taylor Swift, por exemplo — é um dos fatores avaliados pela arena palmeirense ao selecionar as apresentações. “Para fazer um megashow, você precisa parar o estádio por cinco ou seis dias. Quando as datas são consecutivas, a agenda é otimizada”, diz Macedo.
Além disso, diferentes promotores que usam a casa em datas vizinhas costumam compartilhar equipamentos de iluminação, som, palco e barricadas para organizar a plateia. “Tentamos concentrar os espetáculos em um mesmo período para não tirar jogos do time de futebol (que aconteceriam na arena) mais do que cinco ou seis vezes no ano. Novembro é um mês em que vamos sacrificar algumas partidas seguidas, mas conseguiremos levantar mais receitas e assim liberamos o restante do ano para o futebol, para proteger a Libertadores, a Copa do Brasil e outros campeonatos”, diz o gestor.
A maratona musical de fim de ano em São Paulo tem duas explicações. A primeira é que, na América do Sul, os shows internacionais costumam se concentrar nos últimos e nos primeiros meses do calendário, porque os artistas globais aproveitam o verão do Hemisfério Norte — em junho, julho e agosto — para tocar na Europa e nos Estados Unidos.
A segunda é ainda um efeito da pandemia, que atrasou turnês que deveriam ter acontecido antes — como a da estrela pop Taylor Swift, realizada pela empresa T4F e inicialmente planejada para 2020.
“Ao mesmo tempo, também percebemos uma mudança no comportamento dos consumidores. A demanda para eventos ao vivo aumentou, e começamos a acreditar que isso não é apenas um efeito do pós-pandemia. Acho que o novo patamar de número de shows, acima do nível pré-pandêmico, vai se manter. Hoje, as pessoas querem viver a experiência de ir a um megashow mais do que comprar um produto X, Y ou Z”, afirma Alexandre Faria, vice-presidente da Live Nation Brasil, empresa responsável pelas turnês da banda californiana Red Hot Chili Peppers e do RBD, — que tiveram os ingressos das primeiras datas esgotados em uma hora.
“Acredito que foi a maior demanda de ingressos da história do show business na cidade. Tivemos mais de 1 milhão de pessoas na fila virtual e vendemos 440 000 ingressos, dos quais 315 000 para shows em São Paulo”, diz Faria.
Se os mandamentos da economia afirmam que a alta na oferta abaixa o preço do produto, bem, isso não é verdade no caso dos shows. Ao mesmo tempo em que chovem espetáculos, uma parte das apresentações — especialmente aquelas com palcos que proporcionam maior interação com o público, como passarelas que atravessam a plateia — agora oferece somente a chamada “pista premium”, sem a modalidade normal.
O valor do setor nos shows de Taylor Swift em São Paulo, por exemplo, começava em 1 050 reais (o ingresso “inteiro”, sem benefício da meiaentrada). “Em 2023, notamos uma queda na velocidade de venda das cadeiras mais baratas. Dois fatores explicam isso: os ‘superfãs’, que pegam imediatamente o melhor lugar possível, e o aumento no endividamento das famílias, que afeta principalmente as classes C e D”, explica Macedo, do Allianz.
“O consumidor tenderá a buscar shows que caibam no bolso”, completa Pepeu Correa, CEO da 30e, empresa criada em 2020 que participa de projetos como o reencontro dos Titãs, o festival GPWeek, a nova turnê do cantor pop Jão e a vinda dos veteranos Roger Waters e Paul McCartney neste final de ano — no caso dos ingleses, em parceria com a Bonus Track.
“Tivemos de unir forças, porque será a maior turnê jamais realizada pelo Paul no Brasil. O músico costuma fazer em média três shows a cada visita ao país. Agora, serão oito datas. É um recorde histórico”, afirma o empresário.
Uma pesquisa na agenda do músico revela que, na última década, Paul McCartney fez mais shows no Brasil do que no Reino Unido: foram quinze na terra natal do ex-Beatle, contra 23 por aqui, a maioria em São Paulo. “A capital paulista é definitivamente uma das principais praças de shows do mundo e uma das cidades globais relevantes no mercado de entretenimento ao vivo”, diz Correa. A reta final de 2023 não deixa dúvidas sobre isso.
Publicado em VEJA São Paulo de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867