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Aos 100 anos, barbeiro mais antigo de São Paulo se aposenta

Pedro Coutinho trabalhou durante sessenta anos no Salão Ideal, em Higienópolis 

Por Vinicius Tamamoto
Atualizado em 5 dez 2016, 13h49 - Publicado em 14 nov 2014, 20h38

Há dez dias, o ambiente do Salão Ideal, em Higienópolis (Avenida Angélica, 1408), está menos alegre. Aberto em 1938, é lá que o barbeiro mais antigo de São Paulo deu expediente durante sessenta anos – até deixar o trabalho em definitivo no início do mês, ao ser internado com inflamações nas pernas.

Pedro Coutinho, natural de Horlândia, completou 100 anos há alguns meses – nasceu no dia 27 de junho de 1914.

No dia 4 deste mês, queixou-se de dores nas pernas e foi levado ao Hospital Santa Isabel, onde está internado. “Por causa da profissão, ele passa muito tempo em pé, já precisou operar as varizes por três vezes”, conta a filha Mara Lúcia, que recebeu a reportagem de VEJA SÃO PAULO no quarto onde ele está. Apesar de lúcido, Coutinho não quis falar muito.

Criado entre catorze irmãos, ele começou a trabalhar na lavoura aos 6 anos de idade. Na juventude, aprendeu o ofício de barbeiro com um amigo e teve apoio do pai para seguir na profissão.

No início dos anos 50, veio a São Paulo a convite de um colega de profissão. Começou a trabalhar no Salão Ideal e, desde então, teve clientes ilustres, como Olacyr de Moraes, o rei da soja, e o rabino Henry Sobel. Relata ter atendido políticos, marechais e famílias tradicionais da elite paulistana. Há jovens na freguesia, como Victor Collor de Mello, filho de Pedro e Thereza Collor (foto abaixo).

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Cuidando da aparência de tantos homens durante anos a fio, muitos se tornaram amigos e o barbeiro sente ciúme de sua clientela. “Um cliente antigo veio visitá-lo aqui no hospital e a primeira coisa que meu pai perguntou ao vê-lo foi ‘quem cortou seu cabelo?’”, diverte-se Lúcia.

Fuga por amor

No quarto, ao lado do leito, Dona Duria, de 87 anos, zela pelo companheiro. “Homem como ele não existe”, declara-se. O casal se conheceu em São José do Rio Preto, quando ele ia cortar cabelo no hospital em que ela trabalhava. Não lembra o ano exato, só sabe que “faz muito tempo”.

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Com o namoro desaprovado pelo pai dela, os dois fugiram para um sítio. “Mas a gente só teve a nossa primeira noite depois de casar mesmo, ele sempre foi muito respeitador”, lembra.

Juntos, eles formaram uma família numerosa: são três filhos, dez netos e dezesseis bisnetos. Apesar de não ter concluído os estudos, o casal se esforçou para dar boa educação aos filhos. “Todos fizeram faculdade”, orgulha-se a matriarca.

Atualmente, “seu Pedro” recebe uma aposentadoria de cerca de 1 000 reais por mês. “Um homem que trabalhou a vida inteira, nunca atrasou uma conta sequer, pagou todos os impostos para o governo, receber uma aposentadoria dessa… Dá até vergonha de falar”, desabafa Lúcia.

Mesmo debilitado, o barbeiro deve voltar para casa na próxima semana e, apesar de não pegar em tesouras, pretende visitar o local onde viveu por seis décadas. “O salão é a vida dele”, resume a filha.

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