‘Quincas Berro d’Água’ traz quinteto irreverente
Comédia tem inusitado enredo com quatro homens que roubam o corpo do amigo de dentro do velório para sair com ele em uma noitada nas ruas do Pelourinho
Nascido na Bahia há 41 anos, o diretor e roteirista Sérgio Machado consegue captar bem o espírito da obra de Jorge Amado (1912-2001) na comédia Quincas Berro d’Água. Não é para menos. Foi por intermédio do escritor que ele chegou até Walter Salles, produtor de seu primeiro longa-metragem, o documentário ‘Onde a Terra Acaba’, de 2001. No ano seguinte, Machado comandou a minissérie de TV ‘Pastores da Noite’, baseada no romance de Amado.
A mesma Salvador tão bem mapeada pelo cineasta no drama ‘Cidade Baixa’ (2005) brilha à meia-luz na correta versão cinematográfica de ‘A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água’. Lançada em 1959, a novela está entre os grandes textos do escritor baiano. Dela, Machado preservou o humor mórbido e o deboche. Escolheu a dedo quatro atores não muito famosos para os papéis principais.
Na trama, Quincas (o experiente Paulo José) morre no dia de seu 72º aniversário. Beberrão e mulherengo, esse ex-funcionário público era símbolo da boemia na capital baiana dos anos 50. Quatro inconformados amigos dele (interpretados por Irandhir Santos, Luis Miranda, Flávio Bauraqui e Frank Menezes) roubam o cadáver no velório para uma noitada de despedida pelas ladeiras do Pelourinho. Se os personagens de Mariana Ximenes (a filha de Quincas) e Vladimir Brichta (o genro) parecem deslocados e ganham desfecho pouco convincente, o quinteto irreverente transpira mais autenticidade — seja por falar o “baianês” com propriedade, seja por suar (também literalmente) a camisa em cenas de tensão e aventuras noturnas.