João Malnalcich, o padre das estrelas
Pároco da Nossa Senhora da Candelária coleciona fiéis famosos
A informalidade no altar não é a única coisa que torna João Luiz Malnalcich, de 48 anos, um padre, digamos, diferente. Ele não é do movimento da Renovação Carismática, que tem como ícone o performático Marcelo Rossi, não aparece na TV e não faz o tipo atlético. Pároco da Nossa Senhora da Candelária, na Vila Maria, Malnalcich é amigo e conselheiro espiritual de famosos como o novelista Silvio de Abreu e as atrizes Fernanda Montenegro e Irene Ravache. Celebrou o casamento de Alexandre Borges e Julia Lemmertz, o de Denise Fraga e Luiz Villaça, as bodas de prata de Tony Ramos e Lidiane, além de ter batizado os filhos de Claudia Raia e Edson Celulari e os de Marcello Antony e Mônica Torres.
“João Luiz é um homem contemporâneo, que nos deixa muito à vontade”, diz o ator Alexandre Borges. “Ele não tem aquela postura doutrinária de padre”, afirma Fernanda Montenegro. Fernanda e Celulari foram os primeiros artistas que o padre conheceu, em 1987, quando assistiu à peça Fedra, em Taubaté, no interior do estado. Ele estava no último ano do seminário e foi cumprimentá-los no camarim. O espanto que os dois tiveram ao ver um religioso no teatro se repetiu com a maioria dos atores que hoje fazem parte de seu rebanho. “Agora eles me cobram: ‘Quer dizer que você foi à peça do outro e não viu a minha?'”, conta Malnalcich. “E também me avisam quando eles acham que a montagem não é para padre. Mesmo assim, eu vou.”
Não raras vezes o encontro se estende, depois do espetáculo, a jantares e festas. Com gente do teatro, já freqüentou o Spot – famoso também entre o público GLS –, o Massimo, o América da Alameda Santos e o Jardim de Napoli, em Higienópolis. “Na época da peça Calígula fomos a uma boate quente de São Paulo”, lembra Edson Celulari. “No meio da noite perguntei se estava tudo bem e ele me agradeceu pela oportunidade de participar do evento. Disse que o ambiente era um rico material comportamental.”
De estréia em estréia, de batizado em batizado na Igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara, onde começou a atuar como padre em 1988, Malnalcich se transformou em porto seguro para muita gente em momentos difíceis. Como no início dos anos 90, quando Irene Ravache lutava para tirar um dos filhos da dependência das drogas, ou por ocasião da morte do marido de Etty Fraser, Chico Martins, em 2003. “Na época, o João me deu um computador que ele tinha ganhado para eu me distrair”, agradece Etty.
Apesar da liberdade com que transita no meio artístico, Malnalcich não é um padre polêmico. Não contesta posições oficiais da Igreja sobre temas como homossexualismo, anticoncepcionais ou divórcio. Repete que “não se podem fazer concessões àquilo em que se acredita só porque se trabalha com um público diferente”. No dia-a-dia, é muito metódico. Tem mania de arrumação e acorda às 5h30 da manhã para fazer “uma bendita academia”, motivado por Silvio de Abreu. Lê diariamente três jornais e dois portais de notícias na internet. Trata muito de atualidades nos sermões – ultimamente, seu discurso é sobre voto consciente. Quando pode, caminha no Ibirapuera e passeia em shoppings, onde aproveita para ir ao cinema e comprar CDs de MPB ou música instrumental. Tem vergonha de ser vaidoso, mas confessa que já se preocupou muito com sua queda de cabelo.
Sempre assiste às novelas, especialmente as dos amigos. Em Belíssima, teve participação especial: enviou a Silvio de Abreu uma imagem de Nossa Senhora da Candelária, que ficou instalada na entrada do estúdio e foi citada pela personagem de Jussara Freire diversas vezes. No último dia das gravações, celebrou uma missa de ação de graças pelo sucesso do folhetim, dentro de um estúdio da Globo. “Ele consegue transformar a religião em uma coisa cotidiana, como acordar, levantar e escovar os dentes”, diz a atriz Aracy Balabanian. “E desmistifica o artista, não nos vê como ídolos, conhece nossas dores e nossas alegrias.”
“Ele não tem isenção de sentimento ao falar. Não é de tocar banjo na missa, não é populista. E não tem aquela voz assexuada de pseudo-anjo. Eu sempre peço a ele que me abençoe.”
Fernanda Montenegro
“Na época da peça Calígula fomos a uma boate quente de São Paulo. No meio da noite perguntei se estava tudo bem e ele me agradeceu pela oportunidade de conhecer aquele rico material comportamental.”
Edson Celulari
“Em nenhum momento ele se valeu do fato de estar próximo da classe artística para aparecer. É um amigo sem deixar de ser profissional quando você precisa de aconselhamento religioso, ele é um padre.”
Irene Ravache
Rebanho artístico
“O sermão dele é uma grande conversa. Não tem preconceitos nem tenta catequizar as pessoas”, diz Tony Ramos
Julia Lemmertz e Alexandre Borges: além do casamento dos atores, o padre celebrou o batizado do filho Miguel
Edney Giovenazzi e Marcos Caruso: presentes na missa de Páscoa que ele realiza todo ano, desde 1994, exclusivamente para os artistas
Depois que morreu o marido de Etty Fraser, Chico Martins, em 2003, o padre presenteou-a com um computador. “Ele queria que eu me distraísse”, diz ela