Clima havaiano vira moda com lojas, shows e documentário
Visual da Honolulu dos anos 40 pode ser encontrada em diversos estabelecimentos da cidade
Enquanto ocupavam a base de Pearl Harbor durante a II Guerra Mundial, os soldados americanos entraram em contato com uma cultura que a maioria não conhecia. Na volta para casa, quiseram reviver um pouco do clima de éden praiano em suas próprias cidades. Foi aí que o movimento tiki — palavra que remete aos totens sagrados, encontrados principalmente na região das ilhas polinésias — ganhou força pelo mundo. Explodiu nos anos 50 e 60, mesclando rockabilly, pin-ups e elementos tropicais, vários deles diretamente inspirados em filmes como os abacaxis musicais de Elvis Presley que viraram clássicos trash, como “No Paraíso do Havaí” (1966). A onda perdeu um pouco da força nas décadas seguintes, mas voltou à cena recentemente. Em São Paulo, os adeptos já contam com um circuito de atrações nas áreas de moda, cinema e música.
“Na esteira da valorização da cultura retrô, muita gente jovem está pegando carona no movimento”, afirma o cineasta Duda Leite, que virou um embaixador informal da história por aqui. O “título” lhe coube depois de assinar a direção do documentário “Tikimentary”, que foi exibido no último dia 5 no Museu da Imagem e do Som (MIS).
No longa de oitenta minutos, filmado em Miami, Nova York e Los Angeles, ele mostra um desfile de camisas de cores espalhafatosas e colares floridos pertencentes a orgulhosos seguidores dessa tendência. Para quem perdeu a oportunidade de conferir a fita, está programada uma outra sessão no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), no dia 1º de julho. “No segundo semestre, pretendemos também mostrá-lo em circuito comercial”, diz Leite.
A coisa chegou a tal ponto que até a Lapa ganhou ares de Honolulu. Isso ocorre graças ao Aloha Café, que funciona nos fundos de uma casa no bairro. Comandada por Isabela Casalino, a loja especializada investe em camisas e vestidos floridos de tecidos importados do Havaí, bonecas vestidas com saia de palha que mexem os quadris ao menor toque e artigos de inspiração rockabilly.
O negócio existe desde 2007, mas nunca foi tão procurado quanto agora. “Nos últimos dois anos, minhas vendas dobraram”, conta a proprietária, que tem dois filhos gêmeos, um chamado Elvis e o outro Johnny, em homenagem ao cantor americano Johnny Burnette, famoso nos anos 50. Para aproveitar o sucesso do tiki, Isabela arma um estande de seus produtos em eventos relacionados, como a feira de carros antigos que acontece todo primeiro domingo do mês, na Estação da Luz.
Outro destaque desse circuito são as festas temáticas embaladas por surf music instrumental. Entre elas, destaca-se a Tiki Tiki no Fubá. “Como o Brasil também tem uma cultura praiana, misturamos músicas de Arthur Lyman e Martin Denny a ritmos latinos e nacionais”, explica Juliana Salty, umas das idealizadoras da balada.
Nesses eventos, costumam ocorrer apresentações de bandas que fazem covers de clássicos de The Ventures e de outros gigantes do naipe. Combos como a paulistana Gasolines e a interiorana The Dead Rocks, formada na cidade de São Carlos, mantêm acesa a velha chama nos palcos. No dia 29, a turma que curte o estilo deve participar do 7º Encontro de Surf Music Instrumental, em Pinheiros, mais um evento criado na esteira das surpreendentes conexões da cidade com o arquipélago americano.