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Especialistas apontam o imperdível da Bienal

Críticos de arte sugerem o que vale a pena ver na 27a edição da mostra

Por Katia Calsavara
Atualizado em 5 dez 2016, 19h21 - Publicado em 18 set 2009, 20h36

Quando escolheu o tema “Como viver junto” para a 27ª Bienal de São Paulo, a curadora-geral Lisette Lagnado, como muitas vezes acontece no mundo das artes, viajou um pouco. Ela queria discutir as dificuldades do ser humano – seja ele artista ou não – de se organizar em sociedade. As quase 1.000 obras que a partir deste sábado (7) estarão dispostas no pavilhão projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera abordam desde a questão da perda da privacidade (como nas câmeras de vigilância falsas idealizadas pelo paulista Marcelo Cidade) até os desafios da comunicação (como nos jogos de palavras da mineira Marilá Dardot). “Acho que o título reflete a falta de diálogo e de horizontes que vemos nos dias de hoje”, acredita Lisette, que neste ano aboliu as representações nacionais, nas quais os artistas eram indicados por seus respectivos governos.

Ao lado de alguns nomes conhecidos, como o argentino Rirkrit Tiravanija e o americano Gordon Matta-Clark (1943-1978), a Bienal apresenta artistas que não costumam integrar grandes exposições em seus países de origem, caso dos responsáveis pelas criações coletivas do grupo Eloísa Cartonera, da Argentina, e do ateliê Bow-Wow, do Japão. Uma novidade desta edição é o projeto de residências. Não, não se trata de Casa Cor. Dez artistas de países como Japão, Benin, Eslovênia e Canadá estiveram no Brasil por um período de um a três meses para criar seus trabalhos. “Eles puderam confrontar as idéias que tinham do país com a realidade social e política que viram aqui”, diz Lisette.

Mas como se encontrar em meio a tal barafunda de quadros, instalações, vídeos e fotografias? A convite de Veja São Paulo, dois críticos de arte, Fernando Oliva, da revista Bravo!, e Fabio Cypriano, professor da PUC e crítico da Folha de S.Paulo, apontaram algumas obras que merecem uns minutinhos a mais de quem visitar o evento. Para Cypriano, o mais interessante é prestar atenção em um grupo de artistas, e não em obras específicas. “Ao ver o conjunto de trabalhos de determinado artista é possível conhecê-lo melhor”, afirma. Entre os escolhidos pelo crítico da Folha estão Gordon Matta-Clark, a cubana Ana Mendieta (1948-1985) e as brasileiras Lucia Koch e Marilá Dardot, além do italiano Francesco Jodice – um dos dez residentes que passaram uma temporada por aqui, que apresenta o filme São Paulo City Tellers, sobre tribos urbanas.

Para indicar o que há de mais bacana na Bienal, Fernando Oliva circulou durante quase três horas pelo pavilhão. E atentou para a disposição das obras. Segundo ele, no térreo e no 1º piso estão trabalhos que tratam do conceito “habitar fronteiras” e, no 2º, criações de ativismo social. “É no 3º andar que o tema da Bienal fica mais evidente”, diz. No geral, Oliva destaca Desempoladeiras, do baiano Marepe; Spectre, do libanês Marwan Rechmaoui; Terrain de Jeu (Território de Jogo), da francesa Dominique Gonzalez-Foerster; e os grupos Eloísa Cartonera e Taller Popular de Serigrafia, da Argentina. “Essas obras inserem no mundo contemporâneo os conceitos dos pensadores que norteiam a 27ª Bienal.”

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O tema central da mostra é inspirado no trabalho do semiólogo francês Roland Barthes (1915-1980) e de dois artistas plásticos, o carioca Hélio Oiticica (1937-1980) e o belga Marcel Broodthaers (1924-1976). Entre 1976 e 1977, Barthes conduziu uma série de seminários intitulados Como Viver Junto, em que discutia a importância de lidar com o outro em um mundo cada vez mais fracionado e em conflito. A contribuição de Oiticica são seus conceitos de “projetos construtivos” e “programas para a vida”, com a idéia de como as pessoas constroem seu espaço social e se relacionam em comunidade. Já Broodthaers transformou sua própria casa em museu, no fim dos anos 60, e questionou a função dos espaços onde a arte é exibida, seja lá o que tudo isso signifique. Descontadas essas discussões-cabeça, visitar a Bienal é um programa interessante – e pode ser até divertido.

• 27ª Bienal de São Paulo. Pavilhão da Bienal. Parque do Ibirapuera, portão 3, 5576-7600. Terça a sexta, 9h às 21h; sábado, domingo e feriados, 10h às 22h. Grátis. Visitas guiadas podem ser agendadas com antecedência pelo Tel. 5576-7648. Até 17 de dezembro.

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