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Volta, Pedrão

Confira a crônica da semana

Por Mário Viana
15 jun 2017, 17h54

Até o ano de 1967, 29 de junho era feriado escolar. Motivo: Dia de São Pedro, o terceiro astro dos festejos juninos. O mês já tinha o paparicado Santo Antônio, no dia 13, e o popularíssimo São João, no dia 24. Pedro fechava o mês, já sem tanto foguetório, mas com o bônus do dia de folga. Era meio fim de festa, mas era festa.

A farra acabou quando o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, o primeiro presidente do regime militar que dominou o Brasil, riscou o feriado do calendário nacional. Particularmente, foi minha primeira birra com a ditadura então vigente. Eu adorava aquele dia de folga. Pouco depois, Castello Branco morreu, num acidente aéreo em Fortaleza, o que levou muita gente a tratar o caso como vingança do santo.

Com o tempo, o povo esqueceu do feriado. São Pedro, coitado, precisou se contentar em ter sido o primeiro papa da Igreja Católica. não é pouca coisa, claro, mas nos corredores celestiais ele devia nutrir uma invejinha branca das esperanças depositadas no casamenteiro antônio e da riqueza gastronômica que até hoje cerca as festas de São João.

Em torno de Santo Antônio, criou-se todo um estoque de simpatias para arranjar marido. Lembro de minhas primas pingando cera de vela num prato com água. as gotas solidificadas se juntariam formando a inicial do nome do futuro marido. C era Carlinhos, r podia ser roberto ou rubens e X… esquece, não existia ninguém com nome começado por X.

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Havia outras simpatias — uma, com clara de ovo, era bem parecida com a da vela, mas tinha a dos papeizinhos dobrados, que continham o nome dos bons partidos. a moça colocava todos os papéis sob o travesseiro e, ao acordar, um deles estaria aberto, revelando o nome do futuro marido. não me lembro de ninguém ter desencalhado graças às simpatias, mas pelo menos elas eram divertidas.

Na noite de São João, o legal era se empanturrar de tranqueira. Milho assado, curau, pé de moleque, pinhão, batata – doce — e bicar o quentão dos adultos. E ainda havia a fogueira, que os mais ousados pulavam por puro exibicionismo.

Mas o que a molecada gostava mesmo era de soltar balão, quando isso ainda era apenas uma brincadeira que coloria o céu da noite mais longa do ano. Tinha balão de tudo quanto era jeito e tamanho. Os maiores, mais criativos e com mais capacidade de voo davam a seus criadores o status de estrelas da turma. ninguém virava incendiário maluco, como hoje em dia. Tinha menos casa, menos prédio, menos antena.

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Depois de tanto corre-corre e tanta comilança, era natural que junho chegasse ao fim com certo cansaço. Festona para São Pedro só rolava mesmo na casa de xarás do santo ou de quem tivesse feito alguma promessa. alcançada a graça, fazia-se a festa para o milagreiro.

nada disso foi suficiente para garantir a reabilitação do santo nas baladas juninas. antônio e João continuam serelepes, mas é bom não desdenhar do apóstolo. Lembre-se de que a ele foi dada a missão de ser uma espécie de hostess do paraíso. Se bobear com Pedro, você não entra no céu nem pintado de ouro. E ele ainda é capaz de jogar água no seu quentão.

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