Roberto Alvim e reencontros possíveis com Shakespeare
Em cartaz na Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo até o dia 25, “Caesar – Como Construir um Império” é o primeiro William Shakespeare levado ao palco pelo diretor Roberto Alvim. A matéria-prima é a tragédia “Julio Cesar”, que mostra a conspiração contra o governante romano e as consequências de sua morte. + Leia crítica […]
Em cartaz na Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo até o dia 25, “Caesar – Como Construir um Império” é o primeiro William Shakespeare levado ao palco pelo diretor Roberto Alvim. A matéria-prima é a tragédia “Julio Cesar”, que mostra a conspiração contra o governante romano e as consequências de sua morte.
+ Leia crítica de “Caesar – Como Construir um Império”.
Alvim transformou o original em um duelo de personagens (representados por Caco Ciocler e Carmo Dalla Vecchia) capaz de significar as mutáveis intenções dos governantes daquela época e de hoje.
Convidado pelo blog, Roberto Alvim escolhe três outras peças de Shakespeare que o provocam e, logo, fazem parte de seus sonhos como encenador.
“Timon de Atenas”
“O protagonista pode ser visto tanto como um personagem vaidoso, perdulário, alienado, hedonista, quanto como um homem generoso, altruísta, filantrópico, desapegado. Sua maior qualidade é, ao mesmo tempo, sua falha trágica. Depois de depredar toda a sua imensa fortuna, ajudando tanto amigos quanto desconhecidos e dando festas e banquetes homéricos para o deleite de incontáveis convidados, vê-se abandonado por aqueles a quem sempre havia prestado auxílio. Assim, o homem mais célebre torna-se um miserável eremita, questionando implacavelmente o fundamento de todas as relações humanas. Seu exílio é da mesma estatura do exílio de Édipo: ambos ficam cegos – cegos de verdade. O sentido final da obra traduz um aspecto crucial de nossa contemporaneidade: as relações só são interessantes quando se localizam no universo das aparências…”
+ Ron Daniels dirige Thiago Lacerda e Giulia Gam em “Repertório Shakespeare”.
“Coriolano”
“Trata-se do personagem que encarna a contradição mais brutal de toda a obra shakespeariana: o herói que vence um povo estrangeiro na guerra, para, em seguida, deixar-se tomar por um desejo insano de violência. Como se, uma vez provado o gosto do sangue, não houvesse mais a possibilidade de retornar a um estado de paz. Pense na escalada incompreensível de torturas em Guantânamo, pense nos massacres de mulheres e crianças no Vietnã, pense nos bombardeios de armas químicas sobre escolas e hospitais na Síria, pense nas milícias de policiais militares no Rio de Janeiro… Além disso, a relação entre Coriolano e sua mãe Volumnia é construída com obscuras camadas de tensão erótica incestuosa, de imensurável complexidade psicanalítica.”
“Sonho de uma Noite de Verão”
“Vejo essa obra como algo muito distinto de uma comédia de quiprocós amorosos: trata-se de uma espécie de sabbath de invocação de forças daimônicas que principiam a transfigurar as identidades, invadindo nosso universo de certezas e instaurando uma zona de instabilidade pulsiva. O campo do conhecido é despedaçado por dimensões radicalmente indizíveis. Para mim, foi a partir dessa peça que Shakespeare alcançou uma dimensão transcendente, de irmanação com o mistério da existência. Foi aqui que Shakespeare, seguindo as indicações de Christopher Marlowe, consumou seu pacto com o invisível. Encenar essa peça seria como se perder em estranhas, escuras veredas… Não se trata de teatro, mas de magia.”
Quer saber mais sobre teatro? Clique aqui.