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Flávia Garrafa, psicóloga e atriz, em “Fale Mais sobre Isso”: “sou muito hiperativa para ficar sentadinha ouvindo o outro”

A paulistana Flávia Garrafa, de 40 anos, passou meia década nos corredores da USP. Formada em psicologia, nunca exerceu a profissão. Como atriz desde 1992, participou de 25 peças, teve papéis fixos nas novelas “Morde & Assopra” e “Amor Eterno Amor” e, enfim, sentiu relativa popularidade como a hilária Ana Maria do seriado “Surtadas na Yoga”, […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 18h23 - Publicado em 12 mar 2015, 13h48
Flávia Garrafa: autora e protagonista do monólogo "Fale Mais sobre Isso"

Flávia Garrafa: autora e protagonista do monólogo “Fale Mais sobre Isso” (Fotos: Lila Batista)

A paulistana Flávia Garrafa, de 40 anos, passou meia década nos corredores da USP. Formada em psicologia, nunca exerceu a profissão. Como atriz desde 1992, participou de 25 peças, teve papéis fixos nas novelas “Morde & Assopra” e “Amor Eterno Amor” e, enfim, sentiu relativa popularidade como a hilária Ana Maria do seriado “Surtadas na Yoga”, do GNT. Chegou a hora de Flávia reencontrar a psicologia – no palco. Ela é a autora e protagonista do monólogo cômico “Fale Mais sobre Isso”, que estreia no sábado (14) no Teatro da Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi. Sob a direção de Pedro Garrafa, seu irmão, Flávia interpreta uma psicóloga e mais quatro pacientes. As sessões – ou, se preferir, as apresentações – se realizam aos sábados, às 20h, e domingos, às 18h, com ingressos a R$ 60,00, até 3 de maio.

A gente pode até considerar “TPM Katrina” como um monólogo, mas, na realidade, essa é sua primeira experiência solo, certo? 

Sim, é a primeira. Eu colaborei no texto de “TPM Katrina”, que era do Paulo Coronato, mas não era uma peça de minha autoria. Também eu não estava sozinha em cena, apesar de o outro ator não ter falas. Dessa vez, o texto é meu e as ideias são minhas. Aliás, eu acredito muito nelas, então é um monólogo autoral. Mas lá vem esse nome “monólogo”, e as pessoas começam a achar que vai ser chato, não é? Então prefiro dizer que é um monólogo cômico, talvez “monólogo cômico psicoterápico” (risos).

Por que esperou tanto para ficar sozinha em cena, ainda mais em uma fase em que os atores cômicos têm grande retorno financeiro em solos?

Eu esperei muitas coisas para ficar sozinha em cena. Esperei o tempo passar, uma oportunidade, dinheiro, coragem… Quando essas coisas apareceram, tudo numa escala reduzida, pensamos: “vai ser agora”. Na verdade, o diretor Pedro Garrafa, meu irmão, pensou por mim. “Flávia, é agora”, disse ele. Eu estava um pouco paralisada pela agenda, me escondendo atrás de convites para fazer o “dos outros” e deixando de fazer “o meu”. Por medo mesmo. Por medo de me expor, de assumir responsabilidades, mas, ao mesmo tempo, sabia que estava na hora de me colocar da maneira que acredito.

+ Assista ao vídeo com Nando Bolognesi, que convive com a esclerose múltipla no palco.

Você temia estar no palco apenas de olho em um sucesso comercial?

Temer um sucesso comercial? Jamais! Acho lindo ver esses artistas fazendo a festa no teatro, ganhando dinheiro e sendo felizes todas as noites. Tenho profunda admiração por todos esses fenômenos, como o Paulo Gustavo, o Marcelo Médici e a Mônica Martelli, por exemplo. Eles têm coragem, talento e merecem o sucesso.

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Então esperava um projeto que fosse realmente significativo?

Talvez você tenha razão. Estava à espera de algo mais significativo. Para ser franca, não botava fé no meu próprio texto. Se não fossem os dois Pedros maravilhosos que eu tenho na vida talvez esse projeto não se concretizasse. O Pedro Vasconcelos, meu namorado, deu a ideia inicial e a maior força do mundo. Meu irmão e diretor, o Pedro Garrafa chamou ótimos produtores e se apaixonou pelo texto antes de mim. Sem eles, eu não estrearia essa semana. Os dois me fizeram ver que eu já tinha o que esperava de significativo, o meu texto.

+ Um papo entre Ester Laccava e Lulu Pavarin, protagonistas de “Quando Eu Era Bonita”.

O espetáculo investe em um universo conhecido seu, o da psicologia. Por que a escolha desse tema, além do óbvio claro…

Na verdade, esse é o diferencial. Quando o Pedro Vasconcelos me deu a ideia, ele estava falando para escrever sobre algo que eu tinha domínio, no caso a psicologia, com humor. Uma coisa que só eu saberia fazer. Bem específica. É claro que qualquer um pode falar sobre tudo, mas, no caso, eu fiz cinco anos de uma faculdade e, agora, ela me serve para alguma coisa (risos). Estou brincando. Essa faculdade sempre me serve para muitas coisas.

Flávia Garrafa

Flávia Garrafa: a atriz nunca exerceu a psicologia e, agora, aplica a experiência da faculdade no palco

Chegou a exercer a psicologia?

Não, eu nunca tive consultório ou atendi fora da faculdade. Para o bem de todas as pessoas que se que tornariam meus pacientes. Mas pratico a psicologia quando dou aula de teatro para crianças e jovens e oriento a minha equipe de professores e assistentes. Como dou aulas desde antes de me formar, sou mais psicóloga do que acho que sou. Eu só “cliniquei” na faculdade. Foi bem difícil. Legal, mas difícil, sabe? Sou muito hiperativa para ficar sentadinha ouvindo o outro. Eu tinha uma pressa em ver tudo resolvido e isso não combina em nada com terapia. Aliás, eu falo muito sobre essa pressa no espetáculo. Cheguei a deixar uma paciente chorando na sala da clínica da USP para ir chorar no banheiro e voltar, dizendo que fui pegar papel higiênico para ela. Fiquei com medo de falar isso no meu grupo de supervisão, pensei que seria expulsa da faculdade, Mas acabei contando e tirei 10 na matéria. A professora falou que reconhecer dificuldade, entender, voltar e se expor faria de mim uma psicóloga melhor, que tinha sido muito sensível da minha parte. Virei atriz então, né?

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Faz terapia?

Sim, sempre fiz. As minhas terapias são pontuais, faço um tempo e volto. Depois mudo de terapeuta. Eu sou bem hiperativa mesmo.

+ Prêmio Shell: conheça os vencedores do teatro paulistano.

Quando houve essa troca definitiva da psicologia pelo trabalho de atriz?   

Eu sempre soube que seria atriz. A psicologia foi uma bendita imposição do meu pai. O plano era largar o curso e pedir transferência para as artes cênicas. Mas o meu pai morreu e, então, me formei. Foi a melhor coisa fiz. A faculdade é muito interessante, ganhei grandes amigos e, além disso, tenho um curso superior completo.

Alguns atores elaboram o personagem sob uma visão mais sociológica, outros vão pelo instinto ou por uma pegada mais visual. Acredito que você inevitavelmente na hora da composição busca um caminho mais psicológico, não? 

Sabe que acho que vou pelo instinto mesmo? Aliás, eu não gosto muito de psicologismo na hora de atuar.  Eu acho que é preciso treino, ensaio, público e tempo para se chegar ao personagem. Sou mais ação que pensamento. Quando vi, já falei e já fiz. Isso não é necessariamente bom, mas é como sou. Já melhorei bastante. Mas ainda sou da ação. Construir um personagem “se jogando”, “fazendo” me rende mais do que pensando. O plano das ideias é imenso e sem limites. A realidade é limitada, isso nos dá contornos. Para um bom rendimento em cena é preciso menos “acho tal coisa” e mais “tento tal coisa”.  Viver é testar e experimentar. Andar em uma montanha-russa é entrar no carrinho e se lançar. Descrever como seria ou dizer por que eu iria a uma montanha-russa é elucubração. É tudo menos estar na montanha-russa, entende?

+ Leia entrevista com Karin Hils, protagonista de “Mudança de Hábito”.

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Mas de que forma a psicóloga entra em ação na hora de compor um personagem?

A psicóloga entra em ação mais para resolver pepinos de relacionamentos no elenco do que em cena, sabe? A única peça em que o meu lado de psicóloga estava lá durante o processo foi “Toc Toc”. Foi muito legal falar de coisas que eu tinha aprendido, muito interessante aquele momento em que as duas profissões estavam juntas. Aliás, parecido com esse momento que vivo agora.

Nesse espetáculo você interpreta um homem e uma senhora idosa, certo? Você não tem medo disso? Afinal, você é uma mulher bonita, de 40 anos, um rosto relativamente conhecido. Fica difícil convencer como velhinha ou homem. Não tem medo de ficar muito ridículo? 

Eu nunca tive medo do ridículo. Meu medo é de ser incompreendida. Graças ao meu diretor, nada é feito em “tipos”. Não tem peruca, não tem trejeitos, não tem sotaque e não tem voz. Os personagens são interpretados pela terapeuta deles, então a mudança é muito sutil. O Pedro tomou cuidado para não me deixar fazer nem uma voz diferente sequer. Os personagens estão lá, mas sem forçar a barra. Toda hora, ele me falava: “Flávia, olha a vozinha da velha. Tira a voz! Use a sua voz”. Sinceramente, não é um espetáculo para eu testar versatilidade. O maior desafio é fazer o meu próprio texto.

+ Leia matéria com Flávia Garrafa.

Você participou de duas novelas na Globo, “Morde & Assopra” e “Amor Eterno Amor”, mas teve mais repercussão com o seriado “Surtadas na Yoga”, no GNT. Agora, volta ao ar com “Amor Verissimo”, no mesmo canal. Acredita que é mais fácil e mais visível o ator levar a prática do teatro para os seriados que para uma novela?

Eu acho que os veículos são diferentes, mas ator é ator no teatro, no cinema e na televisão. Poderia dizer também que nas novelas meus personagens eram pequenos. Mas o fato é que “Surtadas na Yoga” deu o relaxamento que eu precisava para fazer televisão. Os autores Fernanda Young e Alexandre Machado e o diretor Arthur Fontes me deixaram livre e confiaram em mim. Nas novelas, apesar de ter adorado fazer, eu estava tensa, insegura e acho que não dei tudo o que podia. Culpa só minha, claro! Mas, nas séries, eu rendi mais. Sou muito parada nas ruas por causa do “Surtadas na Yoga”. O ator aprende fazendo, se jogando e assumo todas as culpas de erros e acertos com mais leveza. Que venham mais séries, novelas e filmes! Aliás, se minha terapeuta ler essa entrevista, ela vai dizer que eu deveria ter substituído todas as vezes que falei “culpa” por “responsabilidade”.

"Fale Mais sobre Isso": espetáculo em cartaz no Teatro da Livraria da Vila Shopping JK Iguatemi

“Fale Mais sobre Isso”: espetáculo em cartaz no Teatro da Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi

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