O celular de Debora Gimenez Gastaldo, de 44 anos, recebe pelo menos 6 000 mensagens no WhatsApp por dia. A maioria de mulheres com uma dúvida bem curiosa. “Elas me perguntam se devem ser infiéis”, diz.

Explica-se: Debora, na verdade, é a identidade por trás de Sue Hecker, autora erótica que ganhou fama em O Lado Bom de Ser Traída, e-book com um total de mais de 16 milhões de leituras na internet. O sucesso foi tanto que ganhou cópias impressas, com tiragem de 10 000 cópias (mais do que o triplo de um lançamento do gênero). Com outras seis obras, a moça já teve mais de 25 milhões de visualizações na web nos últimos três anos.

Sim, a literatura erótica se revela um fenômeno por aqui. E Sue Hecker, a nossa E.L. James (a autora da trilogia Cinquenta Tons de Cinza, se você não se conecta muito ao gênero). Debora criou o codinome Sue em 2013, quando decidiu escrever uma novela na plataforma gratuita Wattpad.

Formada em pedagogia em sua cidade natal, São Bernardo do Campo, ela até então trabalhava como estilista e proprietária de uma grife de acessórios infantis em Indaiatuba, onde mora. No fundo, sempre sonhava em ser autora. “Amo a trilogia de Cinquenta Tons de Cinza, além de livros como Julia, Sabrina…”, diz.

Sem compromisso, criou O Lado Bom de Ser Traída, que tem um estilo bem romântico/picante, como suas referências. “Afinal, mulheres e homens já sofreram com a infidelidade”, acredita. A trama conta a história de Bárbara, uma executiva bem sucedida que se surpreende ao ser traída pelo noivo.

A parte boa dessa tragédia? Ela conhece Marco, um juiz extremamente sexy, enfim, um baita upgrade em relação ao ex. Foi um sucesso com mais de 10 milhões de downloads na plataforma.

Com o boom, Debora/Sue assinou um contrato com a filial brasileira da editora americana Harper Collins há nove meses. Nesse pouco tempo, já lançou seis obras e, em abril, vai colocar nas livrarias a sétima. Por ora, a vida de escritora bem sucedida não a tornou rica: ganha em média 5 000 reais por mês com a produção na internet. Ainda não recebeu o retorno financeiro do impresso. “Mas sonho em ver meus livros virarem minisséries, filmes”, conta.

Com a dupla jornada de escritora e empresária, acorda às 6h da manhã e vai dormir por volta da 1h, sempre depois de responder as mensagens das leitoras. Ao contrário da máxima de seu livro, ela nunca incentiva suas fãs a “buscar o lado bom de ser traída”. “Prefiro recomendar procurar um psicólogo”, diz.

A nossa E.L. James também é dona de casa. Vive em Idaiatuba, tem um filho adolescente (Gabriel, de 16 anos), do relacionamento de 28 anos com Milton Gastaldo, formado em comércio exterior, seu sócio na grife e principal incentivador. “Como a maioria das minhas leitoras, vou às nuvens com um bom livro erótico. Às vezes, funciona melhor do que filme pornô”, afirma.

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