Cenas de uma Execução
- Direção: Clarisse Abujamra
- Duração: 90 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Triste é verificar que a história da artista plástica Artemisia Gentileschi (1593-1653), passados quase quatro séculos, não cheira a mofo e tampouco se mostra inoportuna em discussões comportamentais. Pioneira do barroco italiano, ela desafiou a sociedade com sua liberdade, inclusive sexual, e obrigou autoridades a rever conceitos de poder em nome da arte. Inspirado nesse pouco explorado símbolo feminino de resistência, o autor inglês Howard Barker escreveu o drama Cenas de Uma Execução, que ganhou montagem brasileira dirigida e protagonizada por Clarisse Abujamra. No palco, a personagem foi batizada de Galactia, pintora consagrada que recebe do Doge de Veneza (papel de Oswaldo Mendes) a missão de retratar em uma tela a Batalha de Lepanto. Desafiadora, ela usou o talento para denunciar a carnificina que vitimou milhares de oponentes à liga cristã e perturbou as autoridades e os religiosos. Galactia foi traída até pelo amante (vivido por Evas Carretero, que substitui Fernando Rocha) e pagou caro por ser fiel a sua consciência. Eis uma história que se sustenta pelo texto e na capacidade de perturbar o espectador com a pluralidade de assuntos narrados. Provocativa como atriz, Clarisse criou uma encenação econômica e pouco visual — o que não deixa de ser corajoso devido ao tema — e apostou alto no numeroso, mas irregular elenco. Quem se sobressai é Oswaldo Mendes, que vai além do contraponto à protagonista. Com Malu Bierrenbach, Roberto Ascar, Fabio Acorsi, Mauricio de Moraes, Amazyles de Almeida, Priscilla Castelo Branco e Lara Córdula. Estreou em 4/6/2016.