Aprendendo com Dorival Caymmi
Resenha por Julia Flamigo
“Quem vem pra beira do mar nunca mais quer voltar”, diz Dorival Caymmi em uma das oito faixas do LP Canções Praieiras. Lançado em 1954, o disco que leva os ouvintes a uma Bahia idílica inspira Aprendendo com Dorival Caymmi, mostra com curadoria de Paulo Miyada em cartaz no Instituto Tomie Ohtake. A voz aveludada do cantor e compositor compõe a trilha sonora do espaço, mas está longe de ser só uma música de fundo. A ideia é explorar como esse imaginário de sombra e água fresca, tão bem representado nas canções, virou tema de outras artes. Uma série de 33 deslumbrantes telas de José Pancetti retrata paisagens litorâneas e dá o tom do conjunto. Empregado na Marinha em 1922, ele pintava nos momentos de folga ou solidão em alto-mar. A dupla Caymmi-Pancetti já seria o suficiente para preencher olhos e ouvidos, mas há uma reunião primorosa de outros dezenove artistas que respondem à original proposta de Miyada. Fotografias em preto e branco de Alice Brill, Pierre Verger e Marcel Gautherot, tiradas nas décadas de 40 e 50, revelam a atmosfera lenta e preguiçosa do pescador, enquanto imagens contemporâneas de Cao Guimarães captam momentos de dorminhocos na praia. Para apreciar o clima contagiante, não deixe de relaxar na Poltrona Mole, de Sergio Rodrigues, feita para ser vendida numa sonhada loja pé na areia, no Rio de Janeiro, que nunca saiu do papel.