Série de e-books conta a história dos bairros de SP pelos seus moradores mais longevos
Outras publicações que estão nos planos são sobre o Ipiranga, Vila Maria e Marsilac

Contar a história dos bairros de São Paulo pelo ponto de vista de seus moradores mais longevos. Essa é a proposta da série
de e-books A Memória dos Bairros de São Paulo pelos 80+, de autoria da e-Editora, do jornalista Alberto Guedes. “A ideia é abordar o envelhecimento da população a partir das memórias, que estão se perdendo.
Porque com o falecimento desses idosos somem histórias sobre a cidade e sobre o nosso sentido de pertencimento”, explica Alberto, citando o processo de inversão da pirâmide etária pelo qual passa o Brasil: o Censo Demográfico 2022, realizado pelo
IBGE, mostrou que o número de pessoas com 65 anos ou mais no país cresceu 57,4% em doze anos.
“Temos três propósitos: estimular o relacionamento comunitário, o relacionamento intergeracional e o cuidado com o entorno e com o meio ambiente, para melhorar a qualidade de vida. Na hora que você cuida da vizinhança, você agrega a comunidade”, acredita o jornalista, que condena o que considera uma tendência de construção desenfreada de prédios pela cidade.
O Sumaré, tema do primeiro livro, passa incólume por esse processo, pois é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Apesar disso, moradores como a dona Noemi Camerini, 87, uma das dez pessoas que teve sua história contada no e-book, ainda têm que levantar fundos para preservar o bairro.
Moradora do Sumaré desde 1972, ela se juntou a vizinhos para cuidar da Praça Borborema, nas imediações de sua casa. A imigrante italiana passou o talento para cuidar do ambiente para a filha, Lucia, que chegou a ser presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Sumaré (Somasu). A idosa vive com a filha e a neta, Jade, na mesma casa de 53 anos atrás. “Não penso em me mudar. Esse bairro é único, cheio de natureza”, afirma.
Como Noemi, outros moradores antigos do bairro ganham destaque no livro, como frei Alain Hévin, 87, pároco do Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima. A Padaria Real, hoje Real Pizzaria e Lanchonete, é lembrada como símbolo local por Valvina Duarte, 95, conhecida por ter estado à frente do estabelecimento.
Era lá que a atriz Karin Rodrigues, 89, matava a fome ao lado dos colegas de TV Tupi. A sede da rede de televisão
esteve localizada na Avenida Professor Alfonso Bovero até falir, em 1980. O mesmo prédio, entre 1990 e 2013, abrigou a MTV Brasil. Karin, eternizada pela parceria no teatro com Paulo Autran (1922-2007), com quem foi casada por 33 anos, conta no livro o dia a dia de trabalho na Tupi. “Chegava às 7h da manhã e saía às 7h da noite. Hoje, dou comida para os cachorros, faço
ginástica, fisioterapia, leio, fico pensando, olhando as árvores.Muita gente reclama da velhice, mas eu acho uma época maravilhosa”, diz a atriz, que mora sozinha com quatro cachorros em uma casa no Jardim Paulista.
Três das personagens do livro faleceram durante sua produção, que durou quase cinco anos. Uma delas foi Maria Helena dos Santos, fundadora da escola de samba Tom Maior. “Gosto dessa história porque mostra a cultura negra num bairro paulistano
de classe média”, destaca Alberto.
No evento de lançamento do primeiro volume, que ocorreu na Unibes Cultural, parceira do projeto, foram distribuídas mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. A ideia é realizar um mutirão de plantio no bairro no próximo mês. Sumaré — A Memória
dos Bairros de São Paulo pelos 80+ estará disponível gratuitamente no site da e-Editora a partir da próxima semana. O bairro seguinte a ser retratado em novo volume já foi escolhido: o Bom Retiro. Outros que estão nos planos são Ipiranga, Vila Maria
e Marsilac. Com certeza, com muita história para contar e guardar