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“O preenchimento virou uma terra de ninguém”, afirma especialista em cirurgia plástica

Luiz Paulo Barbosa alerta para os riscos do excesso de procedimentos estéticos e advoga pelo banimento do PMMA, popular por baratear a prática, embora perigoso

Por Laura Pereira Lima
Atualizado em 11 abr 2025, 12h47 - Publicado em 11 abr 2025, 06h00
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Pioneirismo: mais de cinquenta anos de carreira (Leo Martins/Veja SP)
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Quando Luiz Paulo Barbosa se formou em medicina, no começo da década de 70, em Belém, só havia dois cirurgiões plásticos em atividade na capital paraense. Muita coisa mudou desde então. Só em 2022, foram 2 milhões de cirurgias plásticas realizadas no Brasil, número que coloca o país como o maior realizador de procedimentos cirúrgicos estéticos do mundo.

Um dos pioneiros na lipoaspiração no Brasil, Barbosa atendeu pacientes como Jacqueline Blábláblá, famosa travesti biografada no livro “Rainhas da Noite”, de Chico Felitti, e até o Fofão da Augusta — um caso perdido, segundo o médico, que não chegou a operá- lo. “Era uma coisa inacreditável”, conta, sobre as bochechas do artista de rua. O caso de Jacqueline, em 1975, foi a primeira feminização que realizou — hoje, ele contabiliza mais de 6 000.

O médico também fez carreira com procedimentos como lifting facial e inserção de próteses de silicone. “Hoje, meu carro-chefe é a retirada de produtos”, revela, referindo-se à remoção de substâncias injetáveis, como silicone líquido, proibido desde a década de 90, e polimetilmetacrilato (PMMA), que tem sido alvo de discussões na Anvisa. O especialista recebeu Vejinha durante duas horas em seu consultório no Itaim, em São Paulo, cidade onde atua há 49 anos.

O que é o PMMA e quais são os riscos de injetá-lo?

É um composto de esferas de acrílico, que normalmente não causa infecção, como o silicone, porque é um produto da indústria farmacêutica, esterilizado. Mas pode ter outras consequências, especialmente em grandes volumes, como numa nádega, por exemplo. As doses exageradas geram compressões e dificuldade de circulação, alterando sensibilidade, provocando dor, inflamação dos nervos e dos tecidos subjacentes, granulomas, varizes na pele… Além dos riscos à saúde, com o passar dos anos, ele modifica os contornos faciais ou corporais, devido à flacidez que se desenvolve naturalmente com a idade. Isso causa mudanças estéticas graves que só regredirão com o auxílio de cirurgias muito trabalhosas. Os corpos estranhos não absorvíveis também podem produzir alterações sérias, com grande comprometimento da função renal.

Por que a substância ainda é tão popular, apesar dos riscos?

Por parecer uma atividade simples, pessoas sem credencial, como esteticistas, se propõem a injetar o PMMA, o que barateia a prática, mas pode gerar consequências piores. O preenchimento virou uma terra de ninguém. Por isso chegam a esses extremos, com casos de morte. Às vezes, também escolhem PMMA porque há uma lenda de que a prótese fica marcada, o que não é verdade. Isso só acontece quando a colocação é feita no plano errado. Quando colocada dentro do músculo, você consegue uma silhueta muito bonita, sem necessidade de injeção.

Quais são os riscos da cirurgia plástica em geral?

Os riscos são mínimos, porque você está tratando pessoas que fizeram exames préoperatórios, em um centro cirúrgico. E são pessoas que têm saúde. Só opero se elas tiverem saúde. O máximo que pode acontecer é alergia a algum remédio, mas aí o médico pode agir imediatamente.

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No caso de prótese nas nádegas e nos seios, a alternativa ao PMMA são as bolsas de silicone. E para o rosto?

Ácido hialurônico. Ele é absorvível pelo corpo, o que é melhor. Mas, se usado com muita frequência, pode macerar o tecido e causar uma mudança de coloração. Ainda assim, ele é recomendado. Também é possível fazer preenchimento com gordura, mas ela é dissolvida muito rapidamente, em dois ou três meses, o que a torna menos interessante.

“As pessoas se viciam em procedimentos estéticos. Fazem preenchimentos sem parar, achando que vão sempre melhorar. Mas chegam a um ponto em que pioram”

O que acha de dentistas serem autorizados a realizar procedimentos como harmonização orofacial e bichectomia (remoção de gordura das bochechas)?

Sou absolutamente contra. Não sei como isso foi autorizado. O dentista não domina o tratamento estético. Nós (médicos) nunca vamos interferir na atividade de um dentista, não temos conhecimento para isso. Da mesma forma, o dentista não tem conhecimento para fazer procedimentos estéticos.

A harmonização facial funciona de verdade?

Qualquer injeção que você faz para corrigir algo na face hoje em dia é chamada de harmonização facial. Para mim aquilo é uma “desarmonização”, todo mundo fica com aquele bico de pato. As pessoas querem tratar flacidez de face com preenchimento. Mas não funciona. O injetável duradouro, tipo PMMA, sempre vai cair, e não levantar. Flacidez de face só se corrige com lifting, com bisturi.

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O senhor costuma recusar pacientes?

Recuso quando sei que não conseguirei tratá-los ou quando querem algo exagerado. As pessoas se viciam em procedimentos estéticos. Fazem preenchimentos sem parar, achando que vão sempre melhorar. Mas chegam a um ponto em que pioram.

Como escolher um bom médico para um procedimento estético?

Primeiro, tem que ver a formação do cirurgião e se ele é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Também é importante ter indicação de uma pessoa que você conheça, que já fez com o médico e está contente. É sempre bom tomar cuidado com as informações da internet.

Por que escolheu seguir na cirurgia plástica?

Sempre quis ser médico. Quando descobri a cirurgia plástica, me encontrei. Não queria tratar doentes, pessoas que podem morrer. Comecei a estudar com os dois cirurgiões plásticos de Belém e, logo que me formei, vim para São Paulo, para aprender. E acabei ficando. Enquanto eu estiver vivo, com condições de trabalhar, não saio daqui, a menos que não me queiram mais. Mas, graças a Deus, me querem muito.

O senhor acha que atualmente ainda existe uma falta de cirurgiões plásticos fora dos grandes centros?

Não. Hoje você encontra em qualquer lugar. Tem falta de médicos em alguns lugares distantes, mas nunca de cirurgião plástico. Acabei de voltar de Belém e lá tem um a cada esquina. Quando comecei, por exemplo, tinha trinta profissionais em São Paulo. Hoje, são trinta por quadra. E esse é um número que só tende a crescer nos próximos anos.

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Publicado em VEJA São Paulo de 11 de abril de 2025, edição nº 2939.

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