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Estrangeiros sem teto: Daniele Carbone

O italiano de 37 anos veio para o Brasil para se recuperar do vício, mas perdeu tudo ao conhecer a Cracolândia

Por Claudia Jordão
Atualizado em 5 dez 2016, 17h12 - Publicado em 28 abr 2012, 00h50

“Há um ano e meio, quando vim da Itália, eu era um homem em busca da sobrevivência. Pouco antes da viagem, havia passado quatro meses numa clínica de reabilitação no meu país. Saí de lá e voltei a injetar cocaína e heroína na veia. Para tentar me salvar, resolvi mudar de ares. Desembarquei em Cumbica e me hospedei no hotel Marabá, na República. Na bagagem, trouxe um remédio para aliviar as crises de abstinência. Mas a disposição de levar o tratamento a sério acabou quando conheci a Cracolândia. Frequentando a região, cheguei ao ponto mais baixo da minha vida. Nasci em Nápoles e sou filho de um vendedor e de uma faxineira. Saí de casa aos 16 anos e ganhava dinheiro aplicando pequenos golpes. Vendia ternos baratos como se fossem Armani, bijuterias como se fossem ouro… A coisa funcionava tão bem que, durante um período, desfrutei alguns confortos. Não precisava sair cedo da cama e trabalhava apenas três horas por dia, o suficiente para embolsar 1.000 euros (quase 2.500 reais). Vestia roupas de grife, dirigia carros bacanas e frequentava restaurantes badalados, até ter de vender tudo por causa do vício.

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Quando cheguei a São Paulo, trouxe comigo alguns produtos falsificados, comprei outros na Galeria Pagé e enganava os clientes. A condição de italiano também me ajudou bastante. Parava as pessoas na rua, contando a história de que, no caminho para o aeroporto, havia sido assaltado e, por isso, precisava de auxílio para retornar à Europa. Como o brasileiro é generoso, muitos caíram no conto. Eu pegava o dinheiro e comprava um, dois, até três papelotes de crack. As pedras acabaram comigo. Cheguei a um ponto em que não me restavam forças para trabalhar e passei a morar na rua. Fiquei uns quatro meses nessa situação, sem comer e dormindo na sarjeta. Até que um dia, imundo, percebi que não dava para prosseguir daquela forma. Fui procurar ajuda num centro comunitário, onde fiquei uma semana internado, ouvindo a palavra do Evangelho. Saí de lá, mas voltei a consumir drogas. Em maio do ano passado, me indicaram um albergue. Logo consegui uma vaga e, desde então, durmo ali. Estou limpo há um ano. Nesse período, sofri apenas uma recaída. Dias atrás, consegui um trabalho como garçom. Deixei de ligar tanto para a vaidade e para as coisas materiais. Sou feliz? Não tenho nada, mas estou em paz. Não pretendo voltar para a Itália, pois minha família desconhece a situação. Daqui a dois meses quero alugar um apartamento e sair do abrigo da prefeitura.”

 

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