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Homens se rendem a anéis, braceletes, brincos e correntes

Sexo masculino se torna a nova — e cobiçada — fatia de consumidores das joalherias

Por Regina Valadares
Atualizado em 5 dez 2016, 17h36 - Publicado em 18 nov 2011, 23h50

Os povos primitivos já usavam. Faziam colares e pulseiras com amuletos contra os espíritos do mal. Na Antiguidade, as joias eram símbolo de poder. No Renascimento, endossadas pela realeza, cobriam a aristocracia de brilho. Com exceção, portanto, de um hiato nas três últimas décadas, enfeitar pescoço, pulso e dedos sempre foi, por assim dizer, coisa de macho. A noção de que homens “masculinos” não usam joias foi varrida pela era metrossexual — cujo maior símbolo de vaidade é o jogador de futebol inglês David Beckham — e ganhou um empurrãozinho extra nos últimos anos: uma geração de 40 e poucos anos (Beckham, nascido em 1975, está quase nessa faixa) que tem gosto pela própria imagem (bem arrumada) refletida no espelho. “Voltamos às origens”, afirma Hécliton Santini, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM). “Não há mais vergonha em querer se diferenciar e se destacar do grupo usando joias.”

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A Tiffany & Co., por exemplo, desde o início, em 1837, confeccionou joias masculinas. Há quatro anos, inaugurou a primeira “Tiffany & Co. The Men’s Store” na loja de departamentos Isetan, em Tóquio. No ano seguinte, o então presidente da marca no Japão, Michael Christ, anunciou a inauguração de mais dois endereços especializados em homens: na loja de departamentos Hankyu, em Osaka, e no bairro Roppongi Hills, em Tóquio. Suas coleções vêm ganhando cada vez mais novos apreciadores. É o caso da Atlas, inspirada no relógio que fica sobre a porta da loja da Quinta Avenida, e da Bean, criada por Elsa Peretti, uma das designers exclusivas da casa. “A presença do consumidor masculino comprando joias para ele mesmo é uma tendência cada vez mais forte”, diz Luciano Rodembusch, vice-presidente da grife para a América Latina.

De 2007 para cá, o mercado dobrou de tamanho. Os gastos deles com metais e pedras preciosas já representam 20% do faturamento das joalherias no mundo. Publicado no ano passado, um levantamento da consultoria americana Unity Marketing mostrou que as vendas de joias para mulheres cresceram 6,5% entre 2007 e 2009, enquanto o porcentual para homens atingiu 10% no mesmo período — nessa conta não entram relógios, um item muito mais ligado à demonstração de poder do que à vaidade. Os anéis são responsáveis por 51% das compras de joias (fora as alianças de casamento). A categoria em franca expansão, no entanto, é a de braceletes e colares, que cresceu 23% e 21%, respectivamente. “As correntes de ouro de diversas espessuras e pingentes são os itens mais procurados”, afirma Rodembusch. A quarta maior compra é de abotoaduras.

Há dois anos, a joalheria italiana Bulgari chamou atenção para a existência de peças na medida do gosto masculino ao lançar a campanha beneficente Save the Children. Os atores Ben Stiller e Jason Lewis (que ilustra a abertura desta reportagem) e o jogador Ronaldinho posaram com anéis de prata — parte da renda da campanha ajuda a patrocinar a educação de crianças em países como o Haiti. A versão atual é de prata e cerâmica. Alguns modelos unissex grandões, como os desenhados pelo artista plástico indiano Anish Kapoor, ou os da coleção Parentesi também fazem o gênero unissex, caindo como uma luva nas mãos masculinas. É o mesmo espírito da aliança que se tornou símbolo da Cartier — os três aros de ouro branco, amarelo e rosa entrelaçados. Idealizada por Louis Cartier nos anos 1920 para presentear um amigo, o multimídia Jean Cocteau, a Trinity, como é chamada, está no dedo de Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones. Além de peças que transitam bem da caixinha de joias deles para a das mulheres, a grife francesa tem uma única coleção masculina, a Santos, com peças descritas como “simples e sóbrias”, inspiradas no relógio Santos de Cartier.

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“Os homens gostam de discrição”, diz Antonio Bernardo, conhecido pelas linhas limpas e arquitetônicas de suas peças. O designer carioca, um adepto de joias no próprio look, sempre produziu uma peça ou outra. Agora lança sua primeira coleção. Os anéis são o ponto alto. Com encaixe, ajuste, engrenagem, cortes e recortes que enganam a geometria e desafiam a precisão, são feitos de prata, ouro branco, brilhante e bem pouco de ouro amarelo. Nem todos apostam na sobriedade. Ara Vartanian, outro estreante nesse nicho, resolveu fazer sua coleção com base no que cria para uso próprio e que caiu no agrado de seus amigos. “Minha linha tem uma coisa de rock star, mais pesada”, conta. Ele utiliza prata, ouro branco e pedras geralmente pretas. Para ele, as pessoas estão mais soltas para misturar estilos e se mostrar. “Homens que antes não ligavam para detalhes estão mais abertos para experimentar.” E também para se permitir certos requintes, como usar barbatanas de prata no colarinho, com uma frase divertida gravada.

Para alimentar a nova demanda do mercado e suprir uma necessidade criativa própria, Raphael Falci lançou uma linha de anéis de prata com marcas de pneu ou no formato de parafusos e porcas. “Antigamente, o cliente comprava uma joia e ficava com ela anos a fio”, afirma a joalheira Patricia Centurion. “Agora, ele se interessa por design, quer saber sobre a matéria-prima e telefona para perguntar se tem coisa nova.” Em vez de pendurar um pingente, junta três, gosta do bracelete mais largo e adapta peças de família. Aquele que tem um trabalho mais formal usa nos fins de semana. Alguns clientes de Patricia compram mais joias para si do que para a esposa. “Mulheres preferem ganhar uma peça. Os homens vão lá e compram o que gostam.”

Há mais de dez anos trabalhando com linhas masculinas, o joalheiro Julio Okubo considera que não há apenas uma mudança de comportamento — e sim de estilo. “Antes tudo era muito discreto — no máximo uma correntinha de ouro amarelo ou branco”, compara. “Hoje, percebo mais a procura por peças chamativas e materiais como o ouro rosa, que estão em alta.” Estilo, para Sheila Dryzun, é o que determina a nova onda bonequinho de luxo do mercado. “Eles estão mais refinados. Não precisam demonstrar apenas força. Sensibilidade e cultura são atributos bem-vindos”, diz. O designer José Carlos Guerreiro apostou suas fichas nesse nicho em 1970 e nunca se arrependeu. Hoje, suas lojas — em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Saint Tropez — têm acervos com mais de 1.000 modelos de pulseira e 200 tipos de cruz. Peças que misturam prata com vários tipos de couro, pinceladas de ouro e pedras preciosas. Pioneiro do segmento, mas produzindo para o mercado feminino também, Guerreiro afirma que basta olhar em volta para comprovar que há um número maior de homens com joias nos dedos, no pulso e no pescoço. “O cara vê na televisão, no galã da novela, no cara bacana, então está endossado. Somos produtos do meio”, afirma, para explicar esse crescimento. Se Brad Pitt, Orlando Bloom, Johnny Depp, David Beckham, Michael Schumacher e até William Bonner usam, que jogue o primeiro anel aquele que resistir à nova moda.

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