A tranquilidade de Sant’Agata Bolognese, a 25 quilômetros de Bolonha, na Itália, só é quebrada pelo ronco enfurecido dos carros que, ainda embalados em plástico protetor, saem da fábrica mais ilustre do local para ser testados nas ruas. O berro dos motores faz parte da rotina e é o orgulho dos pouco mais de 7.000 habitantes da cidade, além de disparar o coração dos turistas apaixonados pelos superesportivos. Fica lá a sede da lendária Lamborghini, onde acaba de nascer mais um herdeiro da nobre linhagem: o Aventador. O nome, como reza a tradição, é homenagem a um touro guerreiro. Nesse caso, um animal que ganhou o troféu de bravura na Plaza de Toros de Zaragoza, na Espanha, em 1993.
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O novo “touro” da casa entra na arena com a missão de ser o mais evoluído carro da marca, fundada por Ferruccio Lamborghini em 1963 e incorporada ao grupo Audi em 1998. O Aventador é o sucessor do Murciélago. Seu motor V12 chega a 350 quilômetros por hora e vai de 0 a 100 em 2,9 segundos. O FF, da concorrente e vizinha Ferrari (pouco mais de 33 quilômetros separam as duas fábricas), precisa de 3,7 segundos para a mesma proeza, e seu velocímetro não passa dos 335 quilômetros por hora. Seu nome oficial, Aventador LP700-4, carrega suas inovações: 4 significa tração em todas as rodas; as duas letras, a posição longitudinal posterior do motor; e 700, o número de cavalos. O câmbio automatizado de sete marchas faz as trocas em 50 milissegundos, o que significa menos de um piscar de olhos. E tudo isso dentro de um corpo mais magro e elegante. A carroceria, feita de fibra de carbono, o mesmo material utilizado nos carros de Fórmula 1, deixou a máquina 30% mais leve e é 150% mais rígida em relação à de seu antecessor.
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Leveza, aliás, virou uma bandeira da casa italiana desde o anúncio, no Salão de Paris de 2010, do Sesto Elemento, uma espécie de manifesto contra o peso. “Deixamos claro que a nossa filosofia não é enfatizar apenas a potência. Nossa preocupação recai agora na relação peso-potência, que no fim das contas determina a performance de qualquer carro”, diz Maurizio Reggiani, responsável por pesquisa e desenvolvimento na Lamborghini.
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Dentro da fábrica, no entanto, o silêncio volta a reinar. E, em contraponto a tanta tecnologia, mãos habilidosas e delicadas encaixam peças, apertam parafusos, costuram e dão os retoques finais, como em um ateliê. São duas linhas de montagem em formato de U trabalhando lado a lado. Em uma nasce o Gallardo e, na outra, o Aventador. Na primeira, entra a carroceria completamente pelada, e, onze estações depois, a máquina está pronta para ser testada nas ruas e fazer a festa de quem passa. Em cada uma delas há dois ou três funcionários, na maioria engenheiros e técnicos superespecializados.
É assim em todos os setores da fábrica. Não há graxa, restos de estopa nem tipo algum de sujeira, como existe nas oficinas mecânicas. Ao lado da linha de montagem está a sala de costura. Não fosse a máquina que detecta as invisíveis imperfeições que passaram pelo controle dos olhos humanos, o local poderia estar nos fundos de uma casa em que uma avó habilidosa cria vestidos para suas netas. O couro dos bancos e de todo o revestimento interno não pode ter nenhuma falha. Depois de cortados, eles são costurados a mão e testados, assim como todos os componentes que formam a parte interna.
O mesmo vale para o motor, que também é montado manualmente e, antes de ser considerado pronto, passa por um exaustivo roteiro de testes e calibragem. Só depois disso vai para a linha de montagem. No fim do dia, tanto trabalho rende 1,5 carro. Nos últimos dezoito meses, foram produzidas quase 1.000 unidades, o mesmo número de modelos Gol que saem diariamente da linha de produção da fábrica da Volkswagen em São Bernando do Campo, apenas para o mercado interno. Por isso mesmo, quem tiver os 2,6 milhões de reais para desembolsar precisará esperar alguns meses até ver a máquina estacionada na própria garagem.