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Presidentes do Corinthians e do São Paulo em pé de guerra

Com intrigas, acusações e golpes baixos, cartolas dos times rivais protagonizam uma briga de dirigentes que está dando o que falar

Por Marília Ruiz
Atualizado em 14 Maio 2024, 12h36 - Publicado em 28 Maio 2011, 00h50

Inflamados pelo mesmo combustível da paixão que cega os torcedores, não é de hoje que os dirigentes dos grandes clubes da cidade costumam se engalfinhar em brigas. O lendário Vicente Matheus, que comandou o Corinthians em boa parte das décadas de 70 e 80, jactava-se de ter passado a perna nos concorrentes em duas disputas fundamentais. Numa delas, deixou enfurecido Antônio Nunes Galvão, então presidente do São Paulo, quando pôs em prática um teatro para contratar um jovem craque do Botafogo de Ribeirão Preto, em 1978. Enquanto um emissário do Timão enrolava os cartolas do tricolor fingindo tentar a compra do volante Chicão, o chefão alvinegro embarcou para o interior e fechou o contrato com Sócrates, que também era pretendido pelo rival. Noutra pendenga, Matheus criou uma confusão que empurrou a decisão do Campeonato Paulista de 1979 para o início do ano seguinte. Com a manobra, o Palmeiras de Telê Santana, que vinha embalado, perdeu o fôlego e o título para a equipe do Parque São Jorge.

Essas disputas, que sempre enriqueceram o folclore do futebol, mais se parecem com inocentes molecagens diante do clima pesado que existe hoje entre os cartolas Andrés Sanchez, do Corinthians, e Juvenal Juvêncio, do São Paulo. No capítulo mais recente da confusão, ocorrido na semana passada, o primeiro acusou o segundo de ter sido o responsável por vazar para a imprensa uma gravação comprometedora. No vídeo em questão, captado durante um encontro do Clube dos 13, a entidade que reúne os principais times do país, Sanchez arranca risos de seus pares dizendo manter a amizade com os dirigentes da Globo, “apesar de serem gângsteres”. Para o presidente alvinegro, não há dúvida de quem foi o responsável por tornar público esse momento. “Eu já sabia que o Juvenal era prepotente, arrogante e metido, mas alcaguete é novidade”, vociferou. Juvêncio não nega o vazamento. Tampouco o confirma. “Acho apenas que as pessoas deveriam manter aquilo que dizem”, declarou a VEJA SÃO PAULO.

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A relação entre os dois começou a azedar há dois anos, quando o presidente tricolor resolveu limitar a entrada da torcida alvinegra em clássicos disputados no Morumbi com o mando de seu clube. Daí em diante, a temperatura não parou de subir (veja o quadro abaixo). Passou por alfinetadas públicas, desdém em relação ao feito do rival e alcançou seu ápice na polêmica sobre qual campo sediaria os jogos da Copa de 2014 na cidade. Na ocasião, Sanchez comemorou aquilo que considerou uma dupla vitória: o veto da Fifa à arena do São Paulo e a escolha do futuro estádio do Corinthians, em Itaquera, como a sede paulista do Mundial. “Eles estão se comportando como a turma que frequenta as arquibancadas”, afirma o jornalista Roberto Avallone, comentarista da CNT.

Os adversários têm estilos bastante distintos. Sanchez, um bem-sucedido empresário no ramo de embalagens plásticas, dá caneladas na concordância das frases, gosta de cerveja, frequenta pagodes e fuma como uma chaminé. Já Juvêncio, com sua aparência mais fina, coleciona cavalos, gosta de supervisionar o trabalho nos jardins do Morumbi e tem xodó por sua fazenda no interior paulista. Gosta de beber uísque escocês com muito gelo. “Somos diferentes, até por causa da idade”, alfineta Sanchez, 46, sobre o rival, que é mais velho e não gosta de dizer quantos anos tem. “Não conheço bem o presidente do Corinthians para tecer comentários sobre a sua administração ou pessoa”, responde secamente o cartola tricolor, que, apesar de não admitir, completou 79 anos em fevereiro.

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Mesmo com todas essas discussões, os dois mantêm as aparências quando se encontram em eventos e cumprimentam-se com beijos no rosto nessas ocasiões. Ambos também lideram as ações do G4, entidade que reúne os quatro grandes clubes do estado para ações conjuntas de marketing, ambos são petistas e se vangloriam de sua amizade com a cúpula do partido (nisso, Sanchez está à frente por causa de suas antigas ligações com o corintiano ex-presidente Lula) e ambos gostam do poder.

No mês passado, graças a uma batalha jurídica que lhe permitiu o direito a mais uma reeleição, Juvêncio garantiu o comando do São Paulo até 2014. Sanchez, cujo mandato termina no fim deste ano, jura que não seguirá o mesmo caminho. Mas seus aliados no Corinthians já começam a esboçar um movimento de “fica, presidente”. No fundo, talvez esses cartolas não sejam assim tão diferentes quanto querem fazer parecer.

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