Hotéis estão mais cheios e mais caros
Estabelecimentos batem recorde de lotação e diárias aumentam 65% de 2005 para cá
No mês passado, 89.000 pessoas lotaram o Estádio do Morumbi para curtir os sucessos da banda irlandesa U2. Naquela quarta-feira (13), a capital sediava ainda sete grandes feiras de negócios, que também atraíram um grande fluxo de visitantes. Resultado: hotéis completamente lotados. “Foi uma situação atípica”, afirma Bruno Omori, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo (Abih-SP).
Períodos de pico como esse, porém, têm se tornado cada vez mais frequentes. A taxa de ocupação registrada em 2010 foi de 68,5%. Trata-se de um recorde histórico e representa um crescimento de 11,6% em relação ao ano anterior (veja o quadro abaixo). “Se continuar nesse ritmo, dentro de cinco anos o setor estará saturado”, prevê Roland de Bonadona, diretor-geral da rede francesa Accor na América Latina.
Até o início dos anos 90, a situação era justamente a inversa: havia leitos demais para hóspedes de menos. “O mercado tinha parado”, lembra Chieko Aoki, fundadora da rede Blue Tree Hotels. Os tempos difíceis ficaram para trás e o aumento constante da procura serviu de pretexto para os empresários da área praticarem reajustes agressivos. No primeiro trimestre deste ano, o preço da diária média na metrópole era 224 reais — um aumento de 65% em relação aos 136 reais registrados no mesmo período de 2005. Até os chamados endereços “econômicos” não andam tão em conta assim. Quando foi inaugurado, há dez anos, o Formule 1, do grupo Accor, cobrava 39 reais pela diária sem café da manhã. Hoje, esse serviço tem cotação de 129 reais. A concorrência também vai pelo mesmo caminho. No último domingo (1º), por exemplo, a tarifa do Ibis localizado em frente ao Aeroporto de Congonhas subiu 10 reais. Passou para 195 reais de segunda a sexta e 165 reais nos fins de semana. Na Europa, redes que atuam dentro de um conceito semelhante, como a EasyHotel, cobram a partir de 45 reais.
Mantido o ritmo atual de crescimento do mercado, os estabelecimentos podem chegar dentro de um prazo relativamente curto a taxas de ocupação na faixa de 80%, o mesmo índice registrado por grandes centros no exterior (veja o quadro abaixo). Como o número de eventos realizados na cidade continua aumentando a cada ano e com a proximidade da Copa do Mundo, muitos temem que a expansão da infraestrutura hoteleira não acompanhe a evolução do fluxo de visitantes (foram 11,7 milhões de turistas em 2010, ou 40% a mais que o total registrado sete anos atrás). Até 2014, a metrópole deve ganhar mais 2 000 quartos, o que ainda é considerado modesto por especialistas. “Contamos com a atuação do poder público para evitar chegar a esse ponto”, diz Bonadona, do grupo Accor.
Aumentar rapidamente a rede hoteleira representa um grande desafio. Terrenos em regiões centrais como Jardins e Moema são escassos e caríssimos. A solução? Expandir a oferta de quartos com investimentos em outras áreas, como as zonas Norte e Leste. O problema? Falta de transporte público eficiente para que o turista possa se deslocar com facilidade. A recuperação de áreas degradadas, como a Cracolândia, poderia atrair para lá grandes redes do setor.
No Rio de Janeiro, que enfrenta desafio semelhante, suítes de motéis estão sendo transformadas em quartos comuns, a fim de dar conta rapidamente do aumento da demanda por hospedagem. Em São Paulo, não se tem notícia de medidas emergenciais parecidas. A curto prazo, fala-se apenas em reorganizar a agenda turística para evitar picos de ocupação. “Não vejo sinal para alarme, pois temos 10.000 apartamentos a mais que Johannesburgo, na África do Sul, a última cidade a sediar um jogo de abertura da Copa”, diz Omori, presidente da Abih-SP. “Mas precisamos de maior planejamento, para não frustrar os visitantes.”