Pesquisa revela como a tecnologia influencia a rotina dos jovens
MTV entrevistou pessoas entre 12 e 30 anos e classificou seis perfis que estão amadurecendo em meio à intimidade com os equipamentos eletrônicos
A destreza com que os jovens manuseiam seus diminutos equipamentos eletrônicos rendeu-lhes, alguns anos atrás, o apelido de “geração dedão” (thumb generation, no conceito original, em inglês). A velocidade dos avanços tecnológicos, porém, está fazendo com que essa denominação seja reavaliada. Com uma série de aparelhos de tela sensível ao toque desembarcando nas prateleiras, eles já vêm sendo chamados de “geração tela” (ou screen generation). “No celular, no computador, no iPhone ou na TV, essas telas funcionam como janelas pelas quais os jovens se relacionam com o mundo”, diz Wagner Gorab, diretor de marketing da MTV Brasil, pertencente ao Grupo Abril.
A emissora divulgou na última quarta (1º) o Dossiê Jovem. De maio a julho, foram entrevistadas 2 154 pessoas entre 12 e 30 anos em São Paulo, interior paulista, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife e Porto Alegre. Das respostas, emergiram seis perfis de jovens que estão amadurecendo em meio à intimidade com telonas e telinhas: o tradicional, o antenado, o baladeiro, o humanizado, o batalhador e o hedonista. Do total de pesquisados, 500 são paulistanos, das classes A (7%), B (37%) e C (56%), cujas respostas estão apresentadas nos gráficos a seguir.
QUEM SÃO E COMO VIVEM OS JOVENS PAULISTANOS
Humanizada (17%)
Valores: ter fé, viver em uma sociedade mais segura e ter relacionamentos afetivos.
Ela é assim: Thais Carvalheiro, 22 anos, está sempre com uma mochila nas costas. Caso precise comprar qualquer coisa, pode dispensar as sacolas plásticas, contribuindo para o meio ambiente. “Economizo água, luz, papel, tudo o que posso. Detesto desperdício”, afirma ela, que confessa olhar feio para quem suja a rua. “Temos de nos preocupar com o bem-estar dos demais e com o futuro.” Thais tem o hábito de separar o lixo para reciclagem e doar roupas e objetos que não usa mais. Os itens são encaminhados à Ação Solidária Contra o Câncer Infantil, ONG em que já foi voluntária. Tal consciência social e ambiental determina o perfil do qual ela faz parte. Cuidados com a alimentação e uma rotina social moderada são outras características. “Preciso comer bem para dar conta dos meus afazeres”, diz ela, que estuda economia no Mackenzie e ainda trabalha como vendedora. “Baladas me esgotam. Prefiro algo mais tranquilo, como barzinhos.” Para Thais, a principal função da internet é ajudá-la nos estudos.
Batalhadora (13%)
Valores: viver em uma sociedade menos desigual e consumista e ter fé.
Ela é assim: futilidade — é como Glaucia Paz do Nascimento, 25 anos, classifica sites como Twitter e Facebook. “Passo bem sem usar, não me agregam nada”, diz. Quando está on-line, sua preocupação é acompanhar o noticiário e procurar emprego em páginas especializadas. Passou sete anos trabalhando na ONG Grupo Vida Brasil, de auxílio a idosos. Saiu para buscar oportunidades na área em que está se formando neste ano, rádio e TV, que cursa na Faculdade Oswaldo Cruz. Durante dez anos, manteve o mesmo aparelho celular. “Acabo de trocar porque estava ficando constrangida de usá-lo”, explica ela, queixando-se do olhar de reprovação que recebia ao sacar o “tijolo”. Viver em uma sociedade menos desigual e consumista é o principal valor desse grupo. “Outro dia li sobre o (escritor e ativista paquistanês) Tariq Ali e fui atrás do livro dele. Admiro pessoas engajadas.”
Tradicional (19%)
Valores: união familiar, carreira e profissão.
Ele é assim: “Passo mais tempo do que eu gostaria”, afirma o estudante de arquitetura Alexandre Kissajikian, 22 anos, sobre as quatro horas diárias que gasta em sites de relacionamento como Twitter e Facebook. Muitas vezes ele está programado para fazer determinada atividade, mas perde a noção do tempo escrevendo mensagens e lendo sobre o que seus conhecidos estão fazendo. Essa é uma característica comum no grupo identificado como tradicional, muito focado na família e nas relações pessoais. Preocupa-se ainda em evoluir profissionalmente e estabelecer uma carreira. Alexandre conseguiu juntar tudo isso. Chamou o irmão mais velho, o advogado Eduardo, 24, e os amigos Vicente de Mello, 22, estudante de física, e Bruno Shintate, 21, estudante de cinema, e montou uma produtora de fotografia e vídeo, batizada de Guardanapo Produções. Para buscar ideias e referências, Alexandre explora ao máximo os sites de busca, outra ação frequente desse grupo.
Hedonista (13%)
Valores: ter amigos, boa formação escolar, carreira e independência financeira.
Ele é assim: deixar de sair para ficar surfando na internet já foi algo rotineiro na vida do estudante de publicidade Ricardo Beserra, 21 anos. A opção, porém, nada tem a ver com solidão: o estudante conta que 90% de suas amizades foram feitas on-line. “Entrava em grupos que compartilhavam os mesmos interesses que eu tenho por música, cinema ou comportamento.” Outro caminho para ampliar sua rede de relacionamentos foi estabelecer comunicação com amigos de seus conhecidos. Ricardo se encaixa no perfil dos jovens bastante familiarizados com as novas mídias. Uma vez conectado, esse grupo passa seu tempo com games, download de músicas e exibição de fotos e vídeos. Considera a internet a melhor forma de se atualizar e, com tantas opções ao alcance dos dedos, acredita que ficar em casa pode ser divertido. Valoriza amizades, boa formação escolar, carreira e independência financeira.
Antenado (19%)
Valores: ter relacionamento amoroso, poder de compra, emprego público, liberdade, beleza física e praticar atividade esportiva.
Ele é assim: a menina dos olhos do publicitário Fabio Ximenez, 29 anos, atende por um nome estranho: hadavision.tumblr.com. Esse é o endereço do blog que ele iniciou em fevereiro, voltado à cultura pop. “É meu passatempo profissional”, conta Fabio, que procura caprichar no visual e no conteúdo da página, automaticamente conectada às redes sociais. Assim como os demais integrantes desse grupo, sua atividade favorita na internet é publicar textos, vídeos e fotos em sites pessoais. São jovens que gostam de expor suas opiniões, debater o que ocorre no mundo e conversar com amigos. Também se consideram dependentes do computador, da TV e de música. Para Fabio, as canções estão presentes tanto nos downloads quanto longe da telinha, quando aproveita para tocar guitarra. “Ultimamente meu repertório mistura Elvis, Little Richard e Jerry Lee Lewis.”
Baladeira (18%)
Valores: beleza física, liberdade e fé.
Ela é assim: o Google é o ponto de partida para a assistente de maquiagem Sabrina Calixto, 25 anos, saber o que as celebridades estão usando, quais as cores em alta e as tendências da próxima estação. “Começo procurando informações sobre moda e beleza e logo estou por dentro de todas as fofocas: quem se casou, se separou, teve filhos…”, diz. O mundo fashion e a vida dos famosos são os assuntos que mais interessam ao perfil de que Sabrina faz parte. São jovens preocupados com a própria imagem, cuidadosos do visual e que valorizam a liberdade individual. Têm uma vida social intensa e grande intimidade com o celular, principal forma de estar em contato com os amigos. “Se eu percebo que esqueci o meu, fico desesperada.” Aos sábados e domingos, ela frequenta baladas do Baixo Augusta. Entre as casas favoritas, lista Vegas, Outs e Funhouse.