3 perguntas para… Antônio Tenório da Silva
Judoca é tema do interessante documentário 'B1 — Tenório em Pequim', em cartaz no Shopping Frei Caneca
Você certamente já ouviu falar da saltadora Maurren Maggi, do nadador Cesar Cielo ou do judoca Tiago Camilo, todos medalhistas em Jogos Olímpicos. Mas, provavelmente, desconhece o também judoca Antônio Tenório da Silva, o único atleta do mundo a levar quatro medalhas de ouro consecutivas em Paraolimpíada (em 1996, 2000, 2004 e 2008). Cego desde a adolescência, esse paulista de São Bernardo do Campo é tema do interessante documentário ‘B1 — Tenório em Pequim’, em cartaz no Shopping Frei Caneca.
Como a deficiência visual mudou sua vida?
Eu era muito bagunceiro e, segundo meu pai, a única solução para me pôr na linha foi me fazer praticar artes marciais. Comecei no judô aos 7 anos. Aos 13, perdi a visão de um olho por causa de uma brincadeira com mamona. Aos 19 anos, tive infecção e deslocamento de retina no outro olho. Já era pai de duas crianças e precisei me recuperar muito rápido para poder sustentar minha família. Nem tive muito tempo de pensar na minha cegueira. Queria seguir a carreira militar, mas abri mão.
Por que pouco se fala em Jogos Paraolímpicos no Brasil?
Por preconceito ou falta de conscientização, acredito numa desinformação generalizada. Se a mídia fala em Olimpíada, precisaria tratar da Paraolimpíada. O canal pago Sportv é o único que transmite os Jogos Paraolímpicos. Pretendemos ampliar o foco com o documentário. O legado que ‘B1 — Tenório em Pequim’ vai deixar para os esportes paraolímpicos é grandioso. Queremos alcançar 15 milhões de deficientes físicos, visuais e mentais que desconhecem esse tipo de prática esportiva no Brasil.
Qual foi sua impressão ao ouvir o filme no cinema?
Os diretores Felipe Braga e Eduardo Hunter Moura pensaram em todos os detalhes. Mesmo eu não enxergando, eles se perguntavam como eu poderia me “ver” numa tela de cinema. Quando ouço o documentário, sei exatamente onde estava e por onde passei. Eu me transporto para o passado e posso me ver em cima do tatame, vejo o choro dos atletas, meu treinamento na França, minha chegada à Vila Olímpica de Pequim… Identifico os lugares pelo som. O trabalho de áudio foi muito bem arquitetado.