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Como é a vida de Ronaldo na cidade de São Paulo

Jogador mora numa cobertura de 600 metros quadrados, adora desafiar os amigos em rodadas de pôquer e anda nas nuvens por ter trazido o filho para a cidade

Por Alvaro Leme, João Batista Jr. e Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 10h19 - Publicado em 13 mar 2010, 02h20

Em campo, como notou quem assistiu ao empate entre o Corinthians e o time colombiano Independiente Medellín, na última quarta, Ronaldo vive uma fase pouquíssimo inspirada. Mesmo assim, nunca esteve tão sorridente. A contradição, longe de se tratar de falta de consideração com a torcida alvinegra, deve-se à realização de uma vontade nutrida ao longo do último ano: trazer para a cidade o filho, Ronald, que morava em Madri com a mãe, Milene Domingues. Ele teria acertado a volta do menino em setembro, quando foi para a capital espanhola discutir na Justiça a redução pela metade da pensão alimentícia de 10 000 euros mensais (cerca de 24 000 reais). Ronaldo fez questão de matricular o filho, que atualmente mora com a avó materna no bairro da Casa Verde, numa escola bilíngue do Jardim Europa. Não à toa, o jogador visitou recentemente uma mansão à venda no mesmo bairro. Na tarde de 21 de fevereiro, acompanhado da mulher, Bia Antony, e da filha, Maria Sofia, de 1 ano, passou uma hora no imóvel, avaliado em 25 milhões de reais.

Uma possível mudança, no entanto, não deve acontecer tão cedo. Com 33 anos e dono de um patrimônio estimado em 250 milhões de dólares, Ronaldo está muito bem instalado numa cobertura dúplex de 600 metros quadrados, em Higienópolis. Em abril de 2009, ele contratou o arquiteto João Armentano para uma reforma que consumiu quase três meses. Além da troca de pisos, revestimentos e mobília, a obra no apartamento adquirido por 5 milhões de reais garantiu mais privacidade: a piscina, antes totalmente visível de cima, foi cercada por plantas. Uma churrasqueira com cozinha gourmet e uma sala de snooker, local onde Ronaldo guarda os troféus, viraram seu espaço favorito. Bia dedicou especial atenção aos cômodos mais reservados, como a suíte de 200 metros quadrados do casal. Um exemplo: exigiu que a cama ficasse encostada numa das paredes — em vez de no centro do quarto, com as quatro laterais livres, como no projeto original. Disse que a energia fluiria melhor dessa maneira. “Fiquei encantado com o bom gosto dela”, afirma Armentano. Antenada e seguidora dos preceitos da cabala (mística judaica com adeptos de vários credos), a ex-estudante de comunicação comprou para uma das salas a instalação Os Músicos, da dupla os gêmeos. Os grafiteiros criaram também uma obra personalizada, no hall de entrada, inspirada na trajetória de Ronaldo — da vida pobre, no subúrbio do Rio de Janeiro, onde nasceu, ao estrelato.

Por ocupar os dois últimos andares do prédio, ele tem direito a oito vagas de garagem. Ali estaciona duas Land Rovers Freelander (130 000 reais cada uma) e um BMW X6 (350 000 reais). “Hoje vocês querem com ou sem emoção?”, às vezes pergunta, antes de sair de casa, aos seguranças que o escoltam. A frase indica que ele vai costurar entre os carros e ignorar alguns faróis vermelhos, como a reportagem flagrou por sete vezes. “A gente dirige um Prisma 1.4 e fica difícil acompanhá-lo”, diz um dos guarda-costas. Ouve, no último volume, o rap Negro Drama, do Racionais MC’s, que começa com os seguintes versos: “Negro drama / Entre o sucesso e a lama / Dinheiro, problemas / Inveja, luxo e fama”. “É a música favorita dele”, conta o zagueiro William, capitão do Corinthians.

Amigos de equipe

William foi um dos companheiros de equipe que se tornaram amigos — os outros são Jorge Henrique, Edu e Elias. Os cinco varam madrugadas, em geral às quintas- feiras, em rodadas de pôquer. O cacife (valor das fichas para iniciar o jogo) costuma ser de, no mínimo, 5 000 reais. O Fenômeno tem fama de mandar tão bem no carteado quanto em seus melhores momentos em campo. “Nunca participei dos jogos, mas dizem que ele é intuitivo, inteligente e toma decisões rápidas”, afirma o apresentador Luciano Huck, um dos muitos famosos que integram o círculo íntimo de amigos. A cantora Wanessa e seu marido, o empresário Marcus Buaiz, são os mais próximos no momento. No show do grupo Coldplay, no último dia 2, os dois casais assistiram à apresentação num cantinho reservado do palco montado no Morumbi. Ronaldo tornou-se habitué de dois endereços de que Buaiz é sócio, o restaurante japonês Shaya, na Rua Amauri, e a casa noturna Royal, na Rua da Consolação. Hoje num período (aparentemente) mais caseiro, vai para o Royal quando quer se divertir numa balada. Mudou o itinerário, o que é pouco comum, no dia do show do Coldplay: após a apresentação, foi para o Baretto comemorar o aniversário do líder da banda inglesa, Chris Martin. Alguns dos convidados notaram que Bia não deu colher de chá para o marido. Lembrava o tempo todo que haveria treino no dia seguinte e, por isso, nada de álcool. E ele, pasme, obedeceu.

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Exceto por Wanessa, Buaiz e mais uma meia dúzia de gatos-pingados, Ronaldo e a mulher têm círculos de amigos bem diferentes e que pouco se misturam. A turma dela concentra meninas descoladas e viajadas, como a jornalista Renata Hawilla, filha do empresário J. Hawilla, sua colega de faculdade em Paris. O círculo dele inclui outros jogadores de futebol (além de mulheres que adoram a companhia de boleiros) e personalidades como o apresentador Álvaro Garnero e o empresário Alexandre Accioly. Essa diferença de mundos seria uma das principais razões de desentendimentos dos dois — antes de Bia engravidar de Maria Alice, cujo nascimento está previsto para o início de abril, surgiram boatos de divórcio, prontamente desmentidos.

A existência de turmas que pouco se misturam ficou evidente no último dia 7, quando Ronaldo e Bia receberam no apartamento cerca de trinta pessoas para o chá de bebê da segunda filha deles: alguns amigos do craque nem sequer foram chamados. Obcecados em manter sua privacidade, os anfitriões determinaram que os funcionários do bufê Fasano fossem revistados. Não poderiam entrar com celular, para evitar fotos, nem com caneta, para não pedirem autógrafo. Em vez de presentes para seu bebê, a futura mamãe quis que os convidados fizessem doações para o Hospital Amparo Maternal, na Vila Clementino. Até a última quarta, a instituição havia recebido, em nome de Bia, 128 itens, entre pacotes de fralda, leite em pó e outros produtos para crianças.

Noitadas

A temporada paulistana da família Nazário de Lima, porém, nem sempre foi em clima de comercial de margarina. Logo que chegou, Ronaldo se jogou na balada Pink Elephant, no Itaim, onde bebeu bastante e foi visto, já com o dia claro, dançando sem camisa na pista. Um vídeo dessa noite, em que aparece com as pernas de uma mulher em volta de seu ombro e pescoço, rodou a internet. Um mês após esse episódio, agitou numa casa noturna em Presidente Prudente, onde o Corinthians estava para uma partida. A noitada custou o emprego do então diretor de futebol do time e hoje técnico do Palmeiras, Antônio Carlos, que o acompanhara na ida à boate. Há quem jure que, no auge da boemia, a animação era mais intensa. Depois de se separar da apresentadora Daniella Cicarelli, em 2005, Ronaldo estaria entre os melhores clientes do empresário Oscar Maroni, dono do Bahamas, reduto de garotas de programa, atualmente fechado. “Ele gastava, em média, 4 000 reais por noite”, diz Maroni. Tanto entre as moças com quem badalava naquela época quanto no meio futebolístico, tem fama de garanhão. “Ele demonstra ter pela companhia feminina a mesma sede que tem por marcar gols”, conta o apresentador e cronista esportivo Milton Neves.

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Apesar de ganhar vinte vezes mais que a média dos jogadores do Corinthians (70 000 reais), Ronaldo, que fatura 1,4 milhão de reais com salário mais publicidade, não azedou o ambiente do time como muitos acreditavam que iria acontecer na época em que chegou ao clube, em dezembro de 2008. Motivo? O atacante se tornou uma espécie de porta-voz dos jogadores junto à diretoria. Cobra bichos e também incentiva o elenco a dividir o prêmio com os colegas que ficam na reserva. “Hoje, ele manda mais no Corinthians que o Mano Menezes e o Andrés Sanchez juntos”, afirma Neves, referindo-se, respectivamente, ao técnico e ao presidente do clube. Não é um exagero completo. Desde a passagem do atacante argentino Carlos Tevez pelo Parque São Jorge, a contratação pelo Timão de um jogador não movimentava tanto dinheiro. Uma semana após a sua chegada, foram vendidas 2 000 camisetas com o número 9. Apesar de demonstrar quanto sua presença move os torcedores apaixonados, essa é apenas uma porção ínfima das cifras em torno dele. Em dezembro último, Andrés Sanchez afirmou à revista PLACAR que pretende arrecadar 50 milhões de reais neste ano só com patrocínio do uniforme — em 2009, a receita foi de 38 milhões. Outra fonte de arrecadação é a bilheteria, que deve encher o cofre com mais 35 milhões de reais nos torneios de 2010.

Arroubos

Não é nada surpreendente que uma pessoa envolta em cifras astronômicas tenha seus momentos de megalomania. Um dos exemplos mais curiosos remonta ao seu casamento com Daniella Cicarelli. Sua vontade de impressionar a noiva era tamanha que ele quis entrar em contato com o Vaticano para saber da possibilidade de a cerimônia ser celebrada pelo papa João Paulo II e chegou a dizer que iria contratar a banda irlandesa U2 para dar show na festa. O estilista Valentino, um dos mais consagrados nomes da moda mundial, assinou o vestido de Daniella e circulava para cima e para baixo segurando a cauda do modelito como se tivesse acabado de aprender a costurar. Esses arroubos, porém, não são comuns. Seja no nível profissional, seja em seu círculo de amigos, é consenso que Ronaldo é uma pessoa doce, bem-humorada e gentil. Adora contar piada, jogar videogame e passar horas na internet batendo papo, principalmente na concentração. “Fiquei impressionado com a inteligência e a simplicidade dele”, diz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já recebeu Ronaldo em sua casa e retribuiu a visita participando de uma rodada de pizza no apartamento do craque. “Tinha outros jogadores e foi bem divertido, afinal eu sou corintiano.” Na ocasião, FHC, que jamais ligou para futebol, foi convidado para jogar pôquer com os amigos dele. “Não arrisco jamais. Não tenho cacife. Pôquer é para ser jogado com amigos de renda semelhante”, diz ele, cujos parceiros de pano verde são os professores universitários Boris Fausto e Leôncio Martins Rodrigues. “Não tem possibilidade de me aventurar numa mesa com jogadores de futebol.”

Essa vocação para ímã de gente bacana — e patrocinadores em potencial — justifica sua decisão de tornar-se embaixador do Corinthians após sua aposentadoria, anunciada para 2011. Antes disso, no entanto, terá muito a mostrar. A torcida espera que ele faça bonito no ano do centenário do clube, principalmente no que diz respeito ao título inédito de campeão da Libertadores. Em 2009, o atacante atuou em 38 dos 72 jogos do clube e fez 23 gols. Neste ano, nas seis vezes em que jogou, balançou a rede apenas uma. Quem convive com Ronaldo — três vezes eleito o melhor jogador do planeta, o maior artilheiro da história das Copas e campeão pela seleção em 1994 e 2002 — diz que ele tem absoluta consciência da sua atual condição física e não imagina que poderá ser convocado para o Mundial. Tratando-se de Ronaldo, porém, tudo é possível, como diz o trecho final da tal Negro Drama, que ele não cansa de ouvir: “Mas se tiver que voltar pra favela / Eu vou voltar de cabeça erguida / Porque assim é que é / Renascendo das cinzas / Firme e forte / Guerreiro de fé / Vagabundo nato”.

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