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Do teatro para a novela da Globo

Dos 74 atores de Viver a Vida, nove são nomes do teatro paulistano que estreiam no gênero

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h07 - Publicado em 15 out 2009, 16h42

Um empresário em situação financeira instável, casado com Ingrid (papel de Natália do Vale) e pai dos gêmeos Miguel e Jorge, interpretados por Mateus Solano. Essa era a descrição que o ator Nelson Baskerville tinha de seu personagem, Leandro, um mês antes das gravações da novela Viver a Vida, que estreou na Rede Globo em 14 de setembro. Acostumados a longos ensaios, capazes de atravessar seis meses a partir de uma história com começo, meio e fim, não é difícil que muitos artistas estranhem o ritmo alucinado de uma obra aberta televisiva. Escrita por Manoel Carlos e dirigida por Jayme Monjardim, a trama terá cerca de 200 capítulos, e os atores recebem os textos, no máximo, com uma semana de antecedência. Reunindo 74 personagens, a produção chama a atenção por apostar em alguns nomes desconhecidos do grande público, mas bastante ativos no meio teatral. Apenas nos palcos paulistanos, a emissora selecionou nove atores de várias gerações que jamais haviam trabalhado em uma novela inteira.

Assim como Baskerville, as atrizes Ângela Barros e Cris Nicolotti têm mais de três décadas de carreira. Marcello Airoldi, Bruno Perillo, Melissa Vettore, Rogério Romera e César Mello se profissionalizaram nos anos 90 e passaram por grupos conceituados. A menina Klara Castanho, de 9 anos, integrou o elenco do seriado Mothern, do canal GNT, e impressionou pela desenvoltura em projetos especiais como o humorístico Nunca se Sábado… ‘Tanto o cinema como o teatro podem nos reservar grandes surpresas e essa movimentação é ótima porque traz frescor para a TV’, diz Monjardim, que havia trabalhado com Baskerville e Melissa na minissérie Maysa – Quando Fala o Coração, também de Manoel Carlos. ‘Gosto de gente nova e procuro oferecer boas chances de trabalho, papéis representativos’, justifica o autor.

Todos reconhecem que ainda estão aprendendo a lidar com a nova linguagem. ‘Preciso mostrar com um olhar o que faria correndo de um lado a outro do palco’, afirma Cris Nicolotti. Ângela Barros descobriu que na TV a máxima do ‘menos é mais’ vira palavra de ordem. ‘Somos treinados para falar com 200 pessoas, apostando nos gestos, nas expressões, e, agora, devemos ser mínimos diante da lente’, completa a atriz. Depois de quinze anos de carreira, Bruno Perillo procura o tom certo na tela e recebe dicas da atriz Cecília Dassi, sua namorada na ficção, para entender o vídeo. ‘Cecília tem 19 anos e fico impressionado com sua intimidade diante da câmera após dez novelas’, conta Perillo, que participou de Belíssima, em 2006.

A entrada na novela traz a possibilidade de atingir um público infinitamente maior que o do teatro. ‘Encontro gente que diz ter visto um cara parecido comigo na TV e não acreditam ser eu’, lembra César Mello. Muitas vezes, a estabilidade de um contrato fixo por dez meses ou mais também é novidade. ‘Por causa da TV, as pessoas podem ter a curiosidade de conferir nosso desempenho nos palcos’, afirma Marcello Airoldi, que interrompeu a temporada de seu monólogo Um Segundo e Meio, mas pretende voltar à cena no ano que vem.

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