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Câmeras de vídeo fazem parte da vida do paulistano

Da garagem do apartamento à mesa do escritório, o paulistano é filmado, em média, 28 vezes. Em prédios, bancos, lojas, avenidas e estradas, câmeras de vigilância se multiplicam em São Paulo e ajudam na prevenção de crimes de todo tipo

Por Giuliana Bergamo e Maria Paola de Salvo
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h28

Quem passa pela Rua Deputado Laércio Corte, no Panamby, tem sua imagem registrada 54 vezes. Esse é o número de câmeras de segurança voltadas para fora dos edifícios de alto padrão ao longo dos 1400 metros da via. Na mira das lentes, qualquer transeunte se sente inibido em gastar alguns minutos a mais para observar a fachada de um prédio. Não se trata de uma particularidade de bairros e condomínios de luxo. Durante o dia, somos flagrados por milhares de aparelhos espalhados pela cidade. A Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos calcula que São Paulo tenha 500 000 câmeras, uma para cada 22 paulistanos. Estimativas menos conservadoras falam em 800 000. Instalada em postos de gasolina, bancos, guaritas, postes de luz, caixas de lojas e supermercados, escritórios e elevadores, essa parafernália registra sem piedade o nosso dia-a-dia. Da garagem do apartamento à mesa do escritório, o paulistano é filmado, em média, 28 vezes. Em boa parte dos shoppings, por exemplo, há uma central que vigia 95% das áreas comuns, com exceção do interior de banheiros. “É possível acompanhar, com detalhes e em alta resolução, cada passo de quem transita pelos corredores”, diz Luciano Farias, presidente da Securus Brasil, que fornece sistemas de segurança eletrônica para redes de shoppings e bancos.

A simples instalação de uma dessas máquinas não garante o sossego em relação à segurança. Mas elas ajudam na prevenção de crimes – ao descobrirem que há monitoramento, bandidos tendem a escolher outros alvos – e na identificação de seus autores. Na manhã do último dia 6, a psicóloga Renata Novaes Pinto foi assassinada em frente à casa onde morava, na Vila Madalena, depois de ter deixado seus quatro filhos na escola. Minutos antes do crime, câmeras de um prédio vizinho filmaram uma moto com duas pessoas seguindo o carro da vítima. “Os vídeos forneceram pistas sobre o tamanho, o modelo e a marca do veículo”, conta o delegado Jorge Carlos Carrasco, titular da 3ª Delegacia Seccional da Zona Oeste, responsável pela investigação. “Com isso, chegamos a quatro placas de motocicletas. Uma delas pode ser a do autor do crime.” A Polícia Civil estima que duas de cada dez câmeras (públicas e privadas) instaladas na cidade colaborem de fato para as investigações. “Grande parte dos aparelhos só monitora, mas não grava imagens”, afirma o delegado José Luiz Antunes, do Setor de Investigações Gerais da 3ª Delegacia Seccional. “E os que gravam costumam fornecer imagens de baixa qualidade.”

Na mesma semana, cenas flagradas por uma das 102 câmeras com que a Polícia Militar monitora a capital – os bairros mais vigiados são Pacaembu, Perdizes e Morumbi – ajudaram a prender três marginais que roubaram um restaurante japonês na Rua Graúna, em Moema. Eles foram presos treze minutos depois de as lentes os terem filmado correndo por ruas da vizinhança. Dispostas em pontos onde há grande fluxo de pessoas ou com altos índices de criminalidade, como estádios e centros comerciais, as câmeras derrubaram em 20% o número de ocorrências nos últimos quatro meses. O tempo de chegada da viatura caiu de cinco para três minutos.

Com o monitoramento eletrônico, São Paulo segue uma tendência mundial de lançar mão da tecnologia para controlar o crime. Um dos casos mais emblemáticos é o de Londres, que na década de 1990 instalou 500 000 câmeras para conter ações terroristas deflagradas pelo irlandês IRA. A medida acabou colaborando também para a contenção de outros tipos de ocorrência, como assaltos, e serviu de modelo para cidades do mundo todo (veja o quadro). Hoje, o Reino Unido tem 4,2 milhões de equipamentos, um para cada catorze habitantes. Só no metrô londrino, 6?000 câmeras vigiam os usuários.

Por aqui, a prefeitura paulistana conta com 3 585 câmeras, controladas, principalmente, pela Guarda Civil Metropolitana, SPTrans e Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O departamento de trânsito, por exemplo, possui quarenta aparelhos equipados com leitor automático de placas (LAP), capazes de detectar letras e números e denunciar quem infringe o rodízio. Outras 290 são usadas (ou deveriam ser) para monitorar o fluxo de carros. O problema é que menos da metade desses equipamentos funciona. “Isso dificulta muito o nosso trabalho”, diz o perito da Delegacia de Crimes de Trânsito Ricardo Tostes Horta, que investiga mortes por atropelamento. “Imagens são uma arma poderosa para identificar quem foge depois do acidente.” A promessa da administração municipal é triplicar o número de câmeras até 2011. “Nossa intenção não é apenas coibir assaltos ou desvendar assassinatos”, diz o coordenador de Segurança Urbana Edsom Ortega, da Secretaria do Governo Municipal. “Estão sob a nossa mira pichadores, ambulantes e depredadores do patrimônio público.” Graças às câmeras, a Guarda Civil conseguiu deter, em junho, três pichadores na Rua Xavier de Toledo vinte minutos depois que as primeiras imagens foram visualizadas na central de monitoramento. Outro alvo são os ambulantes. Os guardas têm, inclusive, um medidor da concentração de barracas nas ruas da cidade. O alerta vermelho se acende quando as imagens mostram mais de 100 delas em vias como a 25 de Março. “Monitoramos essa quantidade de hora em hora”, diz Ortega.

As estradas paulistas não ficam de fora desse big brother. Dos 316 quilômetros do sistema Anhangüera – Bandeirantes, 80% estão monitorados com 79 câmeras – com exceção de algumas curvas, onde formam pontos cegos. Além dessas, cada uma das dez praças de pedágio tem vinte equipamentos para tentar evitar assaltos. O sistema Anchieta – Imigrantes possui parafernália parecida. Usadas para monitorar congestionamentos e agilizar resgates, as câmeras instaladas em estradas ajudam a evitar acidentes e acabam flagrando cenas curiosas. Em 2003, depois de ter bebido, um sujeito deitou e dormiu sobre a faixa da esquerda da Rodovia dos Bandeirantes. Graças ao monitoramento eletrônico, funcionários da Autoban removeram o homem a tempo de evitar o atropelamento. Lá, cinco funcionários por turno ficam ligados em vinte telas que alternam imagens. “Já vi de tudo: de uma pessoa dançando no meio da pista a cenas de sexo no acostamento”, conta o operador Silas Natal Inocêncio.

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O mercado de segurança eletrônica, alavancado principalmente pelas iniciativas privadas, não pára de crescer. No ano passado, movimentou 2,7 bilhões de reais no país e, até o fim de 2008, deve crescer mais 16%. Um quarto desse faturamento corresponde apenas à cidade de São Paulo, onde há cerca de 150 empresas no segmento. Portanto, sorria (ou chore), você está sendo filmado.

Planeta monitorado

Para conterem o terror e a criminalidade, cidades do mundo todo lançam lentes sobre suas ruas

Londres

Na década de 90, durante uma forte onda de atentados terroristas deflagrados pelo IRA, as autoridades locais implantaram um sistema com cerca de 500 000 câmeras. Apelidado de Ring of Steel (Anel de Aço, em português), o aparato acabou tendo efeito também na contenção de outros crimes, como os assaltos. O exemplo serviu de modelo para cidades do mundo todo, inclusive para o resto do Reino Unido, onde hoje há cerca de 4,2 milhões de câmeras, uma para cada catorze habitantes

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Nova York

Os policiais nova-iorquinos têm acesso a imagens de cerca de 5 500 câmeras espalhadas pelas ruas e instaladas em edifícios residenciais e comerciais. Apenas num quarteirão do Brooklyn, o número de roubos caiu de 84, no ano de 2006, para 39, em outubro passado. Agora, o Departamento de Polícia planeja instalar outros 1?000 aparelhos até o fim deste ano. A cidade é vigiada ainda via internet. Pelo site earthcam.com, qualquer um pode espiar a Times Square em tempo real

Nova Orleans

No início da década, a cidade enfrentou uma onda crescente de criminalidade. No primeiro semestre de 2003, foram registrados 35 assassinatos a mais que no mesmo período do ano anterior. Uma das medidas tomadas para solucionar o problema foi a instalação de cerca de 250 câmeras. Em um só bairro, elas conseguiram reduzir em 57% o número de assassinatos. Também contribuíram para o controle de saques e assaltos depois que a cidade foi devastada pelo furacão Katrina, em 2005

Bogotá

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A capital da Colômbia é um dos melhores exemplos de redução da criminalidade. O número de homicídios por 100 000 habitantes passou de 63,3, em 2000, para 37,3, em 2006. Para alcançar tal resultado, foi preciso equipar e treinar a polícia local. Além de armas e carros, a segurança de Bogotá conta com câmeras instaladas em espaços públicos

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