Parque Villa-Lobos assume sua vocação de espaço musical
Última apresentação da Osesp atraiu 20.000 espectadores, apesar da garoa e do frio
Antes de começar a execução do Bolero, de Ravel, o maestro John Neschling conta curiosidades sobre a obra e apresenta alguns músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). A professora Sinara Barbanti ouve, atenta, a explicação sem se preocupar com o filho, Pedro, de 4 anos, que faz estripulias com sua bicicletinha. Impensável na austera Sala São Paulo, a cena aconteceu num local que tem reunido cada vez mais adeptos da música: o Parque Villa-Lobos. No último dia 30, um palco de 25 metros de largura foi montado ali especialmente para receber a Osesp, cuja apresentação atraiu 20.000 espectadores, apesar da garoa e do frio. “Que felicidade ver isso”, afirma o arquiteto Decio Tozzi, criador do projeto do parque, de 1987. Naquela época, a área de 732.000 metros quadrados era ocupada por um lixão, que Tozzi sonhava substituir por uma cidade musical – não por acaso, recebeu o nome de um dos maiores compositores brasileiros. Abrigaria escolas de dança, dois auditórios, museus… Até hoje, vinte anos depois, nada. “Somente a área verde prevista no projeto, de 612.000 metros quadrados, saiu do papel”, conta o arquiteto. Mesmo assim, ainda carente de árvores (e de sua sombra), o lugar tem aspecto um tanto desértico. A única referência à arte de Heitor Villa-Lobos são alguns painéis com fotos e dois brinquedos que lembram instrumentos musicais. E, nos últimos tempos, os shows ao ar livre.
Pogramação cultural incrementada é fruto de uma revitalização iniciada há três anos, quando foi organizado um grupo de conselheiros composto de moradores e representantes do governo do estado e da prefeitura. Esse trabalho acelerou melhorias como a reforma dos quatro banheiros existentes, a construção de outros três, a instalação de rampas de acesso para deficientes e o conserto de cercas esburacadas. “Tudo isso atraiu organizadores de eventos”, explica Flávio Scavasin, administrador do parque. Uma das principais mudanças, no entanto, dependia simplesmente da instalação de tomadas. É que o anfiteatro, com capacidade para 450 pessoas, servia como pista para os skatistas porque não tinha fiação elétrica. “Fomos obrigados a enterrar 300 metros de fio para levar eletricidade até lá, o que custou caro e consumiu tempo”, alega Scavasin. Terminadas as benfeitorias, as manobras radicais só ocorrem quando não há atrações musicais no palco.
O advogado Rogerio Nakano e sua noiva, a dentista Tatiana Calazans, foram caminhar no último domingo e acabaram na platéia do show. “Já tinha visto apresentações da Osesp”, diz ele. “Mas nunca de tênis e moletom.” O casal Paulo e Renata Sommerman levou os filhos Marina, de 5 anos, e Daniel, de 2, para brincar e também aproveitou para ver a orquestra. “Fizemos exercício físico e ouvimos música de qualidade sem precisar comprar ingresso”, festeja ela. No início do ano que vem, o Villa-Lobos receberá o Cirque du Soleil, única atração que não será gratuita. Mesmo assim, a temporada da trupe canadense cumpre a vocação de point cultural do espaço. “Agora, temos de batalhar para que o restante do projeto seja concretizado”, afirma o arquiteto Tozzi.
O que vem por aí:
• Neste sábado (6)
Apresentação da Orquestra Filarmônica de Violas, às 16h
• Neste domingo (7)
Show da dupla Palavra Cantada, com a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos, às 11h
• Dias 14 e 21
Show da Banda Mecenas, às 11h, e do cantor Toninho Nascimento, às 13h
• 2 de dezembro
Show da cantora e pianista canadense Diana Krall
• Fevereiro a maio de 2008
Temporada do espetáculo Alegría, do Cirque du Soleil