Paulo Stocker apresenta seu alter-ego e outras criações na Circus Hair
Personagens, dirigíveis e gambiarras do cartunista undergound ganham as paredes do badalado salão nos Jardins a partir deste sábado (28)
Nariguda e um pouco tristonha, uma silhueta se espalha pela capital. Feita em stickers auto-adesivos, está colada nas ruas e paredes de bares do Baixo Augusta como o Ibotirama. Também decora lojas, apartamentos e agências de publicidade no Ipiranga e em Higienópolis. Neste sábado (28) Clovis, personagem do cartunista Paulo Stocker, de 47 anos, chega aos Jardins. Será a estrela do lançamento do espaço expositivo do salão Circus Hair, onde exibirá nas paredes sua boemia romântica junto a costurados dirigíveis e sombras de cidades, outros motivos da nova série criada pelo artista.
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Natural de Santa Catarina, Stocker ainda mantém o estilão outsider dos tempos de produtor cultural em Blumenau. Lá, fez de tudo um pouco: publicou tirinhas em jornais, fez shows de punk rock, fundou cineclubes e levantou festivais de teatro. Até se mudar para São Paulo e investir na carreira de ilustrador. A visibilidade veio quando cruzou com o jornalista Eduardo Rodrigues, em 2006. Da parceria nasceu o cartum Tulípio.
O machão boêmio que não perde a chance de fazer uma cantada e tomar mais um chope virou um gibi gratuito, circulou em balcões de São Paulo, Rio e até de São Luiz, no Maranhão. O sucesso foi coroado com um prêmio no 21º HQMIX, na categoria “Publicação de Cartuns”, em 2008. Ao todo, foram dez números do gibi e um livro, editado pela Devir, em 2009. O personagem e suas tiradas podem ser vistas também nas vinhetas da rede Cineboteco, com mais de quinhentos monitores espalhados em bares pelo Brasil.
Se Tulípio serviu para Stocker refinar seu traço, Clovis traz seu DNA. “Ele é uma coisa mais livre de preconceitos, pois é uma silhueta e não dá para identificar cor e raça. Além disso, não há texto, o que facilita falar de amor sem ser babaca”, explica. O personagem nasceu de duas importantes experiências na vida do cartunista: um curso de clowns feito com a atriz Silvia Leblon e a chegada de sua filha, Teodora, hoje com três anos.
“Quando caiu a ficha que ia ser pai, comecei a fazer vários desenhos sem curtir nenhum. Quando fiz uma silhueta de um cara todo enrolado com suas paixões, achei legal. Juntei clown, quadrinhos, cinema mudo e teatro de sombras javanês. Assim surgiu o Clovis”. A aceitação do personagem no blog “Stockadas” e na fan page do Facebook convenceu o cartunista a partir para as ruas. “Comprei um rolo de adesivo preto e desenhava diretamente no verso. Fazia uns vinte, trinta bonecos e saia com a sacola cheia. Enquanto ia comprar algo para o bebê, aproveitava e espalhava pelas ruas”. Não tardou a surgir convites para decorar bares, apartamentos e lojas, além de encomendas de camisas, canecas e outros suvenires.
Sua nova paixão são os dirigíveis e as sombras. Os grandes balões com as lonas de variados retalhos são feitos em pastel e estiveram em exposição no Caos, no ano passado, e Z Carniceria, em junho desse ano . “O traço mistura grafite, quadrinho underground e impressionismo”, afirma. As cidades seguem o padrão de Clovis — feito em nanquim — e são definidas como “o playground onde ele pode brincar”. O mar de referências inspira o artista a investir ainda mais no cartum que homenageia a filha. “Ele é mais profundo do que qualquer coisa que eu possa ter sido e vou deixá-lo para a Teodora.” A materialização de mais esse sonho vai ser concretizada com uma pequena tiragem de um livro, ainda sem editora definida.