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Peça ‘Vira-Latas de Aluguel’ vai virar HQ e curta-metragem

Inspirada por Tarantino e montada em uma favela, história explora novas linguagens; público enfrenta fila de espera

Por Luisa Coelho
Atualizado em 1 jun 2017, 17h24 - Publicado em 22 fev 2014, 23h08

Era apenas um sonho antigo, mas depois de vinte anos, um processo de capacitação de jovens atores e alguns obstáculos, se tornou uma peça de teatro com casa cheia e temporada prorrogada por duas vezes. Isso tudo dentro da comunidade de Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, pano de fundo perfeito para o diretor Daniel Gaggini – personalidade do ano pelo prêmio Acessibilidade 2013, da SP Escola de Teatro – realizar sua vontade de transportar o primeiro filme de Quentin Tarantino para o teatro.

Tanto deu certo, que agora ele e sua “matilha” avançam as cortinas e traçam novos planos. Em breve, a história sobre um mal-sucedido roubo por uma quadrilha em Vira-Latas de Aluguel, volta a seu ponto de origem em um curta-metragem dirigido e roteirizado por Gaggini. Além de ter uma versão expandida e colorida pelos traços de Alexandre De Maio, quadrinista que já havia sido responsável pelo projeto gráfico de divulgação da peça. 

“A gente não quer só transpor o espetáculo para os quadrinhos, mas acrescentar elementos novos”, afirmou o diretor. Estarão no volume cenas que não aparecem na peça, como um churrasco na laje, onde os personagens desenvolvem o plano do roubo. “O roteiro da peça é curto para quadrinhos, ainda tem muita história pra contar, muito o que explorar”, garante De Maio. A ideia é atingir o público jovem, predominante na plateia da peça e com quem ele acredita que a arte de De Maio tenha muito diálogo. “Os caras recebem o programa [ilustrado] na entrada e guardam”, diz o diretor. 

Tanto Daniel quanto De Maio desenvolvem trabalhos sociais na comunidade de Heliópolis. O primeiro coordenou durante quatro anos o festival de cinema periférico Cine Favela, trabalho que acaba de deixar, e promoveu a capacitação dos atores do elenco de Vira-Latas de Aluguel, que, entre 157 inscritos, selecionou trinta para receberem oficinas de artes cênicas. Esse número foi reduzido a dezesseis, que integram a equipe do espetáculo. De Maio coordena e dá aulas no projeto Jovens Alconscientes, um conjunto de ações que tem como objetivo a prevenção do uso indevido do álcool dentro de Heliópolis.

Diferentemente do espetáculo, gratuito, o livro será vendido. “Queremos fazer uma coisa bem cuidada, com capa dura e cerca de 60 páginas”, adiantou Gaggini, que garante que a obra será lançada, independentemente de editora ou lei de incentivo, e planeja fazer isso até o fim deste ano. 

 

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Já para o filme, o objetivo é experimentar. “O curta tem tudo a ver com nosso espetáculo. Quero trabalhar com uma câmera nervosa”, contou Daniel, que irá assinar direção e roteiro no projeto que deve sair antes mesmo dos quadrinhos. “A equipe já embarcou, o elenco está disponível e a história está aí. É só questão de adaptá-la para uma linguagem cinematográfica”, disse. A equipe técnica será formado por pessoas que participaram de Vira-Latas de Aluguel e Satyrianas – 78 Horas em 78 Minutos, filme que Daniel co-dirigiu em 2013. Um dos nomes cotados para a produção é Kaue Zilli, diretor de fotografia. 

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A temporada da peça está marcada para acabar no dia 30 de março, quando o patrocínio é encerrado. Mas se depender do diretor e elenco, o cartaz ainda vai longe. “Eles não querem parar e a gente tem uma lista de espera permanente”, afirma. Os atores se mobilizaram para insrever o projeto em editais. “Se entrar essa grana, a gente volta e fica maio, junho e julho”, conta. O que ele garante é que a peça não sairá de Heliópolis e não será cobrada. “Já recebemos conviter para levar a peça para outros espaços, mas costumo recusar. Quando a van para lá na rua [entrada de Heliópolis] e a pessoa caminha tem um propósito, né. É para que ela respira a comunidade, entenda, e comece a entrar nesse universo. Se eu jogar isso para qualquer outro lugar, perde um pouco o sentido do trabalho”, explica. 

Daniel Gaggini, diretor de ()
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Permanecendo em cartaz ou não, o diretor já tem planos novos para o teatro. “Tenho um texto de um argentino que é baseada no desaparecimento de uma criança, cujo corpo não é encontrado. Na peça, acontece um julgamento, mas não há o que julgar porque não existe corpo. Eu quero puxar o gancho para esse carnaval que a mídia faz com tudo”, adiantou. Se em Vira-Latas de Aluguel o diretor já não deixa o público “em paz”, ao fazê-lo andar pela rua de Heliópolis, assistir um jogo de sinuca em um bar e a cenas de tortura em uma igreja, no seu próximo trabalho ele promete ainda mais complexidade. “As pessoas não se desconectam, ficam no celular. Eu quero fazer um tipo de teatro que elas sejam obrigadas a embarcar, não quero deixar ninguém respirar. Eu acredito em um teatro contemporâneo que pulse”, disse.

Ele deve utilizar o mesmo grupo da peça atual, de forma profissional, mas garante que não formará uma companhia. “Quero ter eles o mais próximo possível, mas acredito que o ator tem que ser livre”, afirmou. “A gente está formando atores independentes, produtores, que vão ter condição de falar o que quiserem com a sua arte”.  conta, orgulhoso por acreditar que o trabalho tenha cumprido com seu objetivo, mesmo que pareça distante do fim. 

Para assistir ao espetáculo, o público deve ligar nos telefones (11) 3141-1595 / 11 98483-8263, ou enviar email para viralatasdealuguel@gmail.com. Os nomes serão inclusos nas listas de espera e se houver nova temporada, os primeiros terão prioridade. 

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