Sistema Cantareira sofreu “transição catastrófica”, aponta estudo
De acordo com pesquisadores, reservatórios passaram de condições normais para estado de ineficiência em janeiro de 2014. Ações para deter a transição deveriam ter sido tomadas antes desta data
O Sistema Cantareira sofreu “transição catastrófica” entre o fim de 2013 e o início de 2014. É o que afirma um artigo publicado na última terça (15) no site científico norte-americano PLoS ONE. O problema teria sido provocado pela demora dos gestores em reduzir a exploração do manancial, apesar dos indícios de estiagem.
O estudo dos pesquisadores Paulo Inácio Prado, da Universidade de São Paulo (USP), e Renato Mendes Coutinho e Roberto Kraenkel, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é a primeira publicação internacional sobre o assunto.
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Com métodos estatísticos e modelagem matemática, o trio de cientistas brasileiros demonstra que, desde janeiro de 2014, quando a crise foi anunciada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Cantareira já havia mudado do “estado normal” para um “estado de ineficiência”. Ou seja: a água da chuva já não se revertia em aumento do nível de armazenamento das represas porque era absorvida pelo solo seco, no chamado “efeito esponja”.
“A culpa não é do sistema natural, ele sempre funcionou assim. Foi um problema de gestão, que negligenciou aspectos fundamentais do funcionamento de bacias hidrográficas”, afirma Prado, do ecologista do Instituto de Biociências da USP.
Para explicar a transição catastrófica, um termo da física que descreve mudanças bruscas de um estado para outro, Kraenkel, do Instituto de Física Teórica da Unesp, compara a situação do Cantareira com a de um barco no lago. “Ele está sob o efeito do vento e das ondas, mas não vira. Se existir um evento excepcional, sabemos que o barco pode virar, e de forma rápida. Depois que ele vira, fica muito difícil desvirá-lo. Infelizmente, foi isso que aconteceu.”
Segundo Kraenkel, as chuvas na região do Cantareira não diminuíram de repente e o volume de água que entra nas represas por meio da chuva, dos rios e do lençol freático já vinha em queda há mais tempo. “Era possível ter percebido isso antes e reduzido a retirada de água do sistema desde de outubro (de 2013), mas isso só começou a ser feito em fevereiro. Desta forma, (os gestores) acabaram jogando o sistema dentro da catástrofe”, diz.
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Segundo Prado, se as medidas tivessem sido tomadas naquela época, o racionamento de água seria menor hoje e a recuperação do sistema, mais rápida. “A retirada de água já está em menos da metade e ainda estamos com volume baixo. Se os próximos meses não forem muito chuvosos, será preciso reduzir ainda mais a distribuição da água”, diz.
Em nota, a Agência Nacional de Águas (ANA) cita relatório climático que aponta que a estiagem foi “anormal” e “imprevisível” e, desde fevereiro de 2014, defende reduções significativas do uso do Cantareira. A Sabesp e o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) não se manifestaram até o fechamento da matéria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Estadão Conteúdo)