La Brasserie Erick Jacquin fecha as portas
Com as contas no vermelho, o sócio e chef afirma ser uma crise provisória
Um dos melhores e mais premiados restaurantes do Brasil, o francês La Brasserie Erick Jacquin serviu a última refeição no almoço de 30 de novembro. E não voltou a funcionar até o fechamento desta edição. Clientes fiéis, que têm aparecido para ocupar uma das mesas no salão instalado no térreo de um flat no Itaim, encontram as portas trancadas. O chef e sócio Erick Jacquin diz que se trata de uma crise provisória, mas não definiu uma data para o retorno. “Estou em negociação com um partner financeiro. Depois de fazer uma reestruturação, vou reabrir”, promete. Essa situação não se estende a outro de seus negócios, o Tartar&Co, em Pinheiros, no qual tem participação, mas sem nenhum envolvimento administrativo.
As contas no vermelho não são novidade no La Brasserie. O restaurante, no entanto, desta vez enfrenta sua crise mais aguda — só a bancos, deveria 1 milhão de reais, informação que o chef não confirma. A casa de alta gastronomia foi aberta em 2004 por Jacquin em parceria com o arquiteto Evandro Andreoni e o empresário da área de tecnologia da informação Laércio Cosentino, que se desligou da sociedade. O período de nove anos foi suficiente para o restaurante ganhar seis vezes o prêmio de melhor de sua categoria na edição especial “Comer & Beber” de VEJA SÃOPAULO, a primeira em 2006 e a última delas neste ano. Também foi ali que, em 2007, Jacquin conquistou o segundo título de chef do ano.
Aparentemente saudável, o La Brasserie começou a acumular um passivo mais pesado a partir de 2011, quando se tornou o único inquilino do imóvel de mais de 500 metros quadrados, antes dividido com uma loja de vinhos da Expand. Em abril do ano passado, diante de boatos de que fecharia as portas, o chef declarou: “Meu aluguel chegou a mais de 40 000 reais, mas isso não é um problema, nem mesmo o que devo para o banco. Estou pagando tudo”. Atraído por uma locação no valor de 15 000 reais, quase um terço do que pagava anteriormente, ele transferiu o restaurante para o atual endereço, no Itaim. Era o ponto antes ocupado pelo La Vecchia Cucina, de Sergio Arno, aliás, dono e locador do imóvel, que agora está acionando judicialmente Jacquin por falta de pagamento. O débito, nesse caso, é de mais de 130 000 reais.
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Ao chegar ao Itaim, em julho do ano passado, o La Brasserie voltou a bombar. Nessa fase dourada, calcula-se que o faturamento fosse de mais de 550 000 reais por mês, hoje reduzido à metade, uma quantia ainda considerável. “Durante os seis primeiros meses, lotávamosno almoço e no jantar”, conta o gerente Donizeti Ribeiro, o único funcionário que ainda permanece no restaurante. Todos os outros nove deram baixa na semana passada por falta de pagamento, o que motivou o fechamento, segundo o chef, temporário.
Os demissionários também reclamam do temperamento de Jacquin, considerado uma pessoa dificílima no trato. Hoje no Rancho Português, na Vila Olímpia, o garçom Luiz Matias dos Santos Filho queixa-se do ex-patrão. “Ele é descontrolado, chegava a jogar pratos nas pessoas”, diz Santos, que deixou a casa em junho e tem uma audiência marcada na segunda (9) no Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Barra Funda. “Mesmo com toda essa loucura, Jacquin não é má pessoa, mas um gênio da cozinha”, acredita o sommelier Augusto Monteiro, hoje também no Rancho Português. Como o colega Santos, ele está processando o chef por falta de pagamento. “Fiz um acordo verbal para que ele me desse 6 000 reais em oito vezes, mas recebi só as duas primeiras parcelas.”
Outra dificuldade enfrentada por Jacquin é com seus fornecedores. A maioria deles só faz entrega de mercadoria mediante pagamento à vista. Por isso, no último mês, não raro faltavam vinhos na carta e, eventualmente, alguns pratos e itens do couvert. Embora continue no auge de seu talento culinário, que levou o La Brasserie ao topo, Jacquin precisa fazer uma correção urgente de rota para voltar a servir o melhor foie gras da cidade.
Fora de rota
Alguns números do La Brasserie
550 000 reais é quanto a casa no Itaim faturava em agosto de 2012. O valor foi reduzido à metade no mês passado
45 funcionários chegaram a trabalhar ali. Na semana passada, eram só dez
130 000 reais é a dívida apenas com o ponto e o aluguel do imóvel
1 milhão de reais seria a dívida negociada com bancos