Exposição de Regina Silveira apresenta obra feita para escola no Japão
Individual na Galeria Luciana Brito também reúne desenhos de processos, nunca revelados pela artista

A recém-inaugurada instalação na Trienal de Setouchi, no Japão, é uma coroação da artista Regina Silveira, que ganha mais uma individual na Luciana Brito Galeria, no Jardim Europa. Aos 77 anos, Regina produz criações de cada vez maior escala e impacto, numa trajetória intensa e cheia de surpresas.
O céu estampado numa imagem codificada em ponto cruz forma o destaque da mostra Tramados. A instalação de cerâmica é um desdobramento do trabalho eleito por ela para representá-la na ilha de Ogijima, no Japão. Parte de um arquipélago totalmente abandonado por pescadores, a ilha tem 300 gatos e pouco mais de 100 pessoas, e a escola que recebeu sua instalação é frequentada por nada mais do que quatro alunos e oito professores.
Impressionada com o número de alunos da escola, Regina pensou fazer cópias de suas pegadas e as estampar diversas vezes na fachada do prédio: “Era como um desejo de multiplicação”, explica. O projeto original, porém, foi por água abaixo. “Uma das crianças tinha tripofofobia, que é medo de unidades escuras, e ficou aterrorizada com a ideia de ter que pisar numa tinta preta”, conta. O céu em ponto cruz não teria erro.

Quem viu nunca irá esquecer de um trabalho parecido que cobriu o Masp em 2010. Era a imagem em ponto cruz de um céu, como se tivesse sido bordada em toda a fachada do prédio. A obra remetia ao trabalho artesanal e ao feminino, mas também aos pixels e à tecnologia. Faz tempo que a artista de Porto Alegre elegeu São Paulo como sua tela em branco. Foi com esse trabalho, porém – cuja maquete também é exposta na Luciana Brito Galeria -, que ela teve sua maior aparição pública por aqui.
Tramazul foi mais um caso no qual a ideia original da artista teve que ser alterada. A proposta era colocar os adesivos de vinil no vão da construção. “As paredes estavam tão sujas que o vinil não grudava”, lembra Regina. “Aí decidi colar nos vidros”, acrescenta. Ser artista significa ter muito jogo de cintura.

Em novembro de 2014, ela assinou outra obra pública da cidade: a calçada da Biblioteca Mário de Andrade. Foram dez anos trabalho para que a obra PARALER, um mosaico de quase mil metros quadrados, pudesse ser inaugurado na esquina da Rua da Consolação com a Avenida São Luís. Os dois milhões de placas de porcelanato também remetem a um bordado, com a palavra “biblioteca” escrita em diversas línguas.

Um bom número destes processos de trabalho também podem ser vistos na galeria pela primeira vez. São rascunhos que denotam contas matemáticas, traços definitivos e outros rabiscos nem tão definitivos assim. O conjunto forma algo parecido com um diário da cabeça geniosa de Regina Silveira.