Cineastas são punidos após polêmica em debate sobre “Que Horas Ela Volta?”
Cláudio Assis e Lírio Ferreira tiveram comportamento inadequado em evento com a diretora Ana Muylaert no Recife. Duas salas importantes deixarão de exibir filmes da dupla
O que deveria ser um debate sobre o premiado Que Horas Ela Volta? no Cinema do Museu, no Recife, acabou em polêmica – e rendeu a dois renomados diretores pernambucanos uma proibição de exibirem seus filmes por um ano no mais importante circuito de arte da cidade.
Na noite de sábado (29), a diretora paulistana Anna Muylaert foi à capital pernambucana para participar de uma conversa com o público após a estreia de Que Horas Ela Volta?. O local escolhido foi o recém-inaugurado Cinema do Museu, administrado pela Fundação Joaquim Nabuco. Terminada a sessão, Anna entrou na sala acompanhada de dois amigos, os cineastas pernambucanos Cláudio Assis (de Amarelo Manga, Baixio das Bestas e Febre do Rato) e Lírio Ferreira (Baile Perfumado e Árido Movie). Segundo testemunhas, a dupla estava visivelmente bêbada.
+ Anna Muylaert é o nome por trás do sucesso de Que Horas Ela Volta?
Assis chamou a protagonista do filme (Regina Casé) de “gorda” e o maquiador da equipe (Marcos Freire) de “bicha”. Já Lírio impedia o público de fazer perguntas e interrompia as falas de Anna de forma grosseira. Constrangidas, algumas pessoas da plateia apontaram a falta de educação dos cineastas e o diretor de arte do filme, o também pernambucano Thales Junqueira, citou o “show de machismo escandaloso” de ambos.
O caso gerou uma série de discussões nas redes sociais e o público cobrou uma resposta dos administradores. O diretor Kleber Mendonça Filho (de O Som Ao Redor), um dos programadores do Cinema do Museu, se mostrou envergonhado. “Desrespeito com Anna, com o filme, com a equipe, com o público e também com o Cinema da Fundação, que trabalhou desde julho pra trazâ-la aqui.”
+ Nove motivos para ver Que Horas Ela Volta?
A diretora também se manifestou em uma postagem na página de Thales Junqueira. “Gente, foi infantil. A gente tentou controlar com respeito. A questão é: por que alguns homens não sabem ficar à sombra? Têm que estar sempre no centro?”, questionou. “Ninguém pode brilhar 100% do tempo. Pode parecer estranho mas essa infantilidade, ao meu ver, é talvez uma das grandes fontes originais da mente machista”.
Suspensão e desculpas
Além de pedir desculpas ao público e à equipe do filme, a Fundação Joaquim Nabuco tomou uma medida enérgica: vai proibir, por um ano, a exibição de filmes de Assis e Ferreira nas duas salas administradas pela entidade. Além do Cinema do Museu, eles são responsáveis também pelo Cinema da Fundação – a mais importante no circuito de arte e filmes independentes da capital pernambucana.
Em entrevista ao Diário de Pernambuco, Lìrio Ferreira admitiu que estava bêbado e se desculpou. “O que aconteceu foi que eu saí num sábado à noite para prestigiar a estreia do filme de minha querida amiga, bêbado. Quando cheguei, a sessão já tinha começado e fiquei para o debate. Na mesa, eu fiquei esperando uma oportunidade para elogiar o trabalho de Anna, mas o mediador tentou dar a palavra à plateia. E eu me intrometendo pra tentar retomar o raciocínio. Depois me dei conta que estava atrapalhando, peguei um táxi e fui embora. Agora, estou sendo crucificado no Facebook. Só posso pedir desculpas à Anna, como de fato o fiz, logo depois dessa repercussão toda.”