Morador de rua é preso por suspeita de atacar pessoas com agulhadas
Benedito José da Silva, de 62 ano, diz que as 21 seringas que carregava eram para tratar diabetes
Obeso, com cabelos grisalhos e barba por fazer, o eletricista Benedito José da Silva, de 62 anos, fazia parte do grupo dos milhares de moradores de rua que perambulam pela cidade diariamente. Na última terça, 20, foi preso na Barra Funda por suspeita de dar seringadas em pessoas dentro de estações de metrô ou nas suas imediações.
Na ocasião, carregava uma sacola com 21 injeções, todas limpas e embaladas. Foi levado ao Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde uma das vítimas, uma estudante de 18 anos, o reconheceu como o agressor responsável por atacá-la.
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Em depoimento a VEJA SÃO PAULO, Silva negou a história e explicou a origem de seus pertences. “Sou diabético e preciso tomar insulina, por isso carregava o material comigo”, afirmou. Alagoano, ele chegou à capital há quarenta anos, mas vive sem um teto há 23. Nunca se casou nem teve filhos. “Fui expulso da casa da minha irmã porque brigava com meu cunhado”, contou. “Ela reclamava que eu vivia deitado, sem trabalhar. São sintomas da depressão. Eu me trato em um posto de saúde e tomo Rivotril.”
Até a tarde de quinta passada, 22, aguardava decisão da Justiça para saber se irá para um hospital psiquiátrico ou em qual presídio ficará detido até o julgamento. “Ele deverá responder por lesão corporal, crime que prevê pena de três meses a um ano, em caso de condenação”, explica Osvaldo Nico Gonçalves, delegado encarregado do caso.
Desde junho, 24 pessoas, quase todas mulheres, registraram boletins de ocorrência alegando ter sido atacadas com uma seringa em diferentes bairros. O modus operandi em todos os casos é muito parecido. O bandido fura a vítima por trás e foge em seguida. Os agredidos precisam tomar o coquetel de remédios anti-HIV para prevenir uma contaminação.
Não há apenas um “maníaco da seringa”. Em julho, Antonio Nogueira de Santana, outro sem-teto, foi detido pelo mesmo crime e enviado a um hospital psiquiátrico para cumprir pena por lesão corporal. Outros dois suspeitos por ações semelhantes continuam sendo procurados.
Uma das hipóteses da polícia para essa onda é que pessoas com distúrbios psicológicos estejam agindo por influência da repercussão dos casos. As autoridades também não descartam que parte das ocorrências registradas seja fruto do pânico. “Algumas das vítimas não têm certeza absoluta de que foram atacadas”, comenta Rogério Marques, da Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom). “Elas afirmam que sentiram uma picada, mas não sabem dizer se foi injeção ou algum outro objeto pontiagudo.”