“Pensei que fossem me matar”, diz motorista atacado por taxistas
Enfermeiro foi confundido com profissional do Uber e teve carro depredado durante protesto na Avenida 23 de Maio
Atacado por taxistas que faziam um protesto na noite de terça na Avenida 23 de Maio, um enfermeiro de 44 anos disse ter vivido momentos de pavor e chegou a pensar que seria morto.
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O ataque ocorreu quando Jorge Carlos Ferreira Santos tentou furar um bloqueio de taxistas que faziam manifestação contra a publicação de decreto do prefeito Fernando Haddad, liberando o funcionamento do Uber e similares na cidade de São Paulo.
O enfermeiro avançou sobre os taxistas que cercavam seu carro, um Chevrolet Corsa na cor preta. Jorge diz que explicou aos manifestantes que não era Uber e que estava seguindo para o Hospital São Paulo, onde trabalha. O veículo de Jorge teve o vidro traseiro quebrado, e a lataria foi amassada por socos e pontapés. Advogado de Jorge, José Ovídio Ortiz, disse que perícia indicou prejuízo de cerca de 3 000 reais.
Alguns taxistas foram atingidos por Jorge quando ele arrancou com o carro. Mas ninguém, até o momento, registrou queixa. “Eu acredito que algumas pessoas que foram atropeladas possam aparecer, mas é infundado porque ele queria sair do local onde estava sendo agredido e chamado de motorista do uber”, disse José Ovídio Ortiz, advogado de Jorge.
Apesar dos momentos de pânico, o enferemeiro afirma que não julga toda a categoria só por causa do comportamento de alguns. “Tenho um tio taxista. Não tenho nada contra eles”, afirmou Jorge, complementando que não costuma andar de táxi ou de Uber.
Jorge conta ainda que, quando viu as imagens na televisão “viu o filme todo de novo”. “Foi Deus quem me salvou.” Na manhã desta quarta (11), ele registrou boletim de ocorrência no 1º Distrito Policial, na Sé. O enfermeiro fez queixa por dano material, injúria e ameaça. A polícia vai instaurar inquérito, mas a apuração será feita pelo 3º Distrito Policial, em Santa Efigênia.
Confira abaixo o depoimento de Jorge à VEJA SÃO PAULO:
“Tudo aconteceu por volta das 18h15. Peguei o meu carro sozinho e fui para o hospital. No Vale do Anhangabaú, o trânsito estava intenso, mas eu estava ouvindo música e não sabia o que estava acontecendo. Ainda dentro do túnel, na rampa de acesso à Avenida 23 de Maio, vi os taxistas jogando galhos na rua.
Tentei passar pela direita, mas não consegui, pois tinha carros e ônibus. Poderia bater em algum veículo. Passei por cima de um galho e me chamaram a atenção. Eles avançaram e começaram a falar que eu era Uber. Nesse instante, eu me abaixei para pegar o meu jaleco de enfermeiro, mas um deles disse que eu estava pegando uma arma. Eles começaram a chutar a parte traseira do meu carro e dar socos. ‘Não deixa ele escapar’, gritavam.
Eu pensei: tenho que sair daqui. Eu sai, mas fui para o meio da multidão. Eles me cercaram e eu acelerei. Quando o ônibus que estava ao meu lado saiu um pouco, eu consegui sair. Fiquei com medo de morrer. Não cheguei a ver que tinha atropelado ninguém porque estava olhando para o lado. Muita gente se jogou sobre o carro. Se eu parasse, eu ia morrer. Eu queria sair de lá o mais rápido possível.